Saí de casa aos 23 anos. Junho de 2002. A Marina Konig, ex-chefe e boa amiga, estava de malas prontas para os EUA e queria alguém pra cuidar e custear o apê. Fui eu com o Akira, bom amigo que havia se separado e estava afins de juntar uma grana.
O Akira aparecia com uma mulher diferente por final de semana. Eu acordava no sábado e tinha uma doida usando meu desodorante. No domingo, era uma maluca quebrando as folhas das plantas da varanda. Acabei que me acostumei. Mas aí ele trouxe a namorada folgada e carioca e quis enfiá-la no apê. Eu me recusei: "aqui essa menina não mora". Aí o Akira saiu de casa para casar.
Morei um tempo sozinha até que a Marina voltou. Voltou grávida do namorado que ficou lá. Ficou até os cinco meses por aqui e aí saiu de casa para casar.
De novo, eu sozinha. Festa, festa, festa todo dia. Ganhava menos de R$ 1,5 mil e não conseguia bancar as festas e o apê. Entreguei o apê.
Fui morar com meus pais no Tatuapé. Eram malas e caixas vagando, em cima do guarda-roupa, debaixo da cama. Horas para ir, horas para voltar. Absorva estes sábios ensinamentos: 1) saiu de casa, não volte mais e 2) faça de tudo para morar perto do seu trabalho.
Saí. Destino: Vila Madalena. Tati de companheira, the best. Mais de 80m2 no burburinho. Japa na varanda, macarrão, brigadeiro. Faxinas no sábado. Festinhas na sexta. Um dia Tati apertou o Wal pra morarem juntos. Ele amarelou. Ela terminou. Eu fui pra Europa. Quando voltei, Tati me deu a notícia. Um mês depois, saiu de casa para casar.
Sozinha, até suportar a bagunça que era aquela esquina purpurinada da Vila. Então mudei para o sossego do Brooklin, periquitinhos na janela. Dessa vez, determinada: nada de dividir apê, nada de alguém sair de casa para casar.
Ontem, eu que saí de casa.