quinta-feira, janeiro 28

estou indo.

Livro número 2 - Registo Geral - ficha 02 - verso
(...) e 34,5% a Vanessa Guedes de Souza, RG número tal, CPF número tal e tal, brasileira, solteira, maior, publicitária, residente e domiciliada na cidade de São Paulo.
Em 20 de janeiro de 2010.
Fim dos atos praticados nesta matrícula.
Vide certidão na próxima folha.
Assim que fazem quando enfim se realiza o desejo do lar, doce lar.

terça-feira, janeiro 5

segunda-feira, janeiro 4

vazão

Tecnicamente, sou amasiada. Quando preencho um cadastro, continuo marcando xis no quadradinho de solteira. Mas na prática, meu bem, tudo mudou em 01 de março de 2009, quando enfim fui morar na casa do gajo.
Não por coincidência, a partir desta data minha produção literária começou a naufragar. Para quem se propõe a ser um escritor ou algo perto disso, é torturante viver um turbilhão de novidades e optar por não escrevê-las. O motivo: uma precária tentativa de manter privada a vida privada.
Mas agora apertei a descarga.
Autores e artistas gritam aos quatro cantos que a vida pessoal é fonte de inspiração. Mesmo sem ser autora nem artista, sempre foi assim para mim. Uma frase, um pedaço de diálogo e pumba: inspiração. Como uma amadora como eu poderia passar ilesa à tentação de descrever o cotidiano na pele de uma recém-juntada que de quebra vira madrasta de adolescente?
Estou explodindo. Tenho dez meses de histórias para contar.

domingo, janeiro 3

passa a régua

Em 2009 eu não fiz festa de aniversário.
Não mandei cartão de Natal. Não escrevi coisa que preste.
Deixei a literatura debaixo do capacho que esqueci na porta do meu antigo apartamento lá no Brooklin.
Xinguei uma pá de gente, briguei com um bando de cretinos, desisti de muitas pessoas. Tinha jurado paciência.
Não paguei a última conta da Telefônica e, por mais que ligue no call-center, eles não me mandam a segunda via.
Fiz piada com a sogra. As sogras, aliás. Fiz pirraça pra diacho, reclamei horrores, vez ou outra me arrependi.
Tive diarreia sempre que o assunto era grana pra comprar a casa. Tive piriri por conta da herança alheia. Tive certeza que me acham usurpadora. Eles sorriem.
Não fiz tudo que minha mãe pediu. Não fiz tudo que o Flávio pediu. Não fiz tudo que meu chefe pediu. Mas a gente sempre deve mesmo.
Falei errado. Conjuguei errado. Esqueci como escrever várias palavras. Cuspi barbaridades pelas amígdalas.
Meu sonho era adotar o lifestyle "caguei, andei e fiz moonwalk".
Fui chamada de menina várias vezes.
Fui uma boa menina má.

Em 2009 ganhei festa surpresa de aniversário. Mas descobri antes.
Não mandei cartão nem aceitei mais um cartão de crédito. Não escrevi coisa que preste.
Busquei a literatura em alguns encontros com Marcelino Freire e fui à FLIP pela primeira vez. E mudei de casa, casei.
Elogiei uma pá de gente, fiz festa com um bando de amigos, desisti de muitas pessoas por que já disse, paciência tem limite.
Fechei o ano no celestial azul bancário. Atei-me a um financiamento.
Fiz piada com as sogras, com os amigos, com os clientes. Fui repreendida. Vou continuar fazendo.
Tive diarreias por que não tive coragem de falar tudo o que sinto. E continuarei me esvaindo em merda e vomitando toda vez que ficar nervosa a esse ponto. Meu corpo sabe expurgar melhor do que eu. Vou rir por último.
Não fiz tudo o que os outros esperam que eu faça. E já entendi que não tem como fazer mesmo.
Falei errado, é verdade. Mas eu acho que pensei certo.
Meu sonho era adotar o lifestyle "caguei, andei e fiz moonwalk", mas não consegui tamanho desapego.
Fiquei puta da cara por me acharem uma menina bonitinha, engraçadinha e burra. Então parou aqui.
Sou uma boa mulher.