por Fellipe Fernandes
Eu, não podendo ter lubrificante em casa, engordurava a cabeça do meu pau com margarina Delícia, que ninguém desconfiava. Abria a porta da geladeira e a cozinha escura revelava-se num trapézio de luz, as listras do chão, depois os pés da mesa, as cadeiras, as laranjas na fruteira e Cátia de quatro no banco de madeira, sustentada pelos cotovelos em ângulos retos no mármore do tampo, à espera de ser batizada.
A calcinha enrolada nos joelhos, um peito dependurado, o outro escapulindo pelo sutiã fora de eixo, e os olhos inquietos em seu abre-fecha, o terceiro mais que os gêmeos, no relanceio divino de um homem que se aproximava contra-luz, difuso, salmodiando algo que ela não ouvia, mas entendia perfeitamente, porque saiam de minha boca com o gosto de vinho e pão não-fermentado da missa da hora anterior.
O cheiro de frango e quiabo fugindo da marmita sobre o fogão lembrava-me que Cátia deveria voltar logo à santa ceia da família e que, enquanto sentia nos meus dedos o aperto das pregas do seu cu, quebrando a rotina da cozinha paroquial e, obviamente, o nono mandamento da lei de Deus com ranhos e bafos, confessávamos, os dois, a Deus todo-poderoso, como faço agora a vós, irmãos e irmãs, que pecávamos muitas vezes, sempre depois das missas de sábado, por atos, palavras, gordura vegetal e tesão.
O marido alimentava os filhos em casa e eu assava Cátia no inferno de minhas veias, do sangue acumulado nelas, de meus pêlos contra a carne macia dos cremes noturnos e diários, agarrando os cabelos com a mão limpa para não ter jamais que apelar aos céus a misericórdia da não-desconfiança no lar sagrado daquele homem que, desajeitado e omisso, cumpria seus deveres aos domingos, ainda assim passíveis de suspensão quando quaresma chegasse.
Firmei-me no pescoço com a direita e com a esquerda impulsionei meus movimentos quando sentia que ficavam lentos. É que demoro a gozar, você sabe. Afasta essa perna, putinha. Você gosta, hã? Gosta de dar essa bunda, é? Gosta? Gosta desse macho, é? Fala, sua puta: e ela atravessava um sim nas ranhuras da língua e pedia mais, mais, mais, mais, e o tapa estralava no rabo corado, forte e firme, para depois me deitar no dorso, morder as costelas e esperar o arrepio. Safada.
Quando sentia, por fim, a margarina desimpedir a textura, pedia que trancasse minha rola e acelerava. Dizia ao meu cacete: recebe, cara, por minhas mãos este sacrifício, para a glória do seu nome, para nosso bem e de nossa parceria eterna. O suor escorria em meu rosto, salgava e ardia, e Cátia implorava que parasse, rogando uns valha-me Senhor, pára, pára, não pára, pára, não pára, e ouvia a prece até sentir que o céu se abriria, quente, leitoso.
E fazia a mulher pagar a penitência do pecado de não ter agüentado até o fim. Ajoelha aí e abre essa boca. Ela obedecia. Puxava-a para mais perto e consagrava a eucaristia em seu rosto: este é o meu corpo, o meu sangue. Tomava do gozo três, quatro jatos, arfando no hálito quente da cozinha fechada, exalando a frango, quiabo e suor, enquanto me dizia, ela lambendo os próprios lábios: eis aqui o mistério da fé.
Levantou-se, foi ao banheiro e voltou, longe de estar arrependida, me dizendo:
- Não sou digna de que entre em minha morada, mas diz só uma palavra e ela será sua.
- Ter mais do que já tenho é gula, querida, e gula é pecado. Agora vai para casa.
- A sua benção, padre.
Beijou-me então a mão esporrada e foi embora cuidar do marido, que também é filho de Deus.
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Um comentário:
Aí Fê, fez falta no Sarau, a galera parece q gozou contigo!
Van, sempre representando! Essa mulher deveria ser eterna, ou pensando melhor não devia não. tudo q é eterno é chato! E vanguedes é fenomenal!
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