quinta-feira, maio 7

etelvino guedes

Baiano das redondezas de Feira de Santana, de uma cidade que nunca decorei qual é. Pai de nove filhos vingados. Avô de uns trinta. Tataravó de cinco. Trabalhador rural do oeste paulista. Aposentado, montou uma venda de bugigangas vindas da 25 de março: bijoux, tic-tacs, diademas e todas as modas das novelas das oito. Quando não estava na venda, estava na praça em frente de casa. Ou na varanda, sentado naquelas cadeiras de tiras coloridas de plástico. Zangava com a esposa: "ô Dona Odete, para de papear com esse papagaio". Então ela, faladeira que é, ia papear com ele, que queria assistir ao jornal em paz. Aí ele emburrava, mas depois a chamava de princesa.
Tinha fama de muito bravo, só que amoleceu com os netos. Sorte minha.
De pouca fala e riso certo, dizia que tinha tudo. Quando lhe faltou algo, faltou ar. Fomos para Mirante do Paranapanema. Mas eu não dei adeus, não quis ver. Preferi ficar com a memória da última vez em que nos encontramos, quando ele me deu um tatu de madeira de presente.

2 comentários:

PrimaGêmea disse...

Bonito Adeus!

Anônimo disse...

Você fala do seu, lembro do meu avô, homem simples, nordestino, figura forte de verdade estampada na cara. Li e chorei de saudades, do meu e do seu, que acabo de conhecer em um único parágrafo.

beijin


f.