Não teve maquiagem, nem ofurô, nem grinalda. Não teve Rolls Royce, nem daminha, nem aliança. Nada de madrinha, de enfeite em cima do bolo. Nem padre, nem convidados. Não teve vestido nem véu nem vento. Mas saiu o sol.
Uma saia branca desenhada pelas bordadeiras de Porto de Galinhas fez par com botas gaúchas até os joelhos. A carruagem preta, suja e ralada. O trânsito na Marginal Pinheiros. Teve a paz dele, o marejar dela.
- Vocês são solteiros?
- Ela sim, eu não.
- Trouxe os documentos?
- Ela sim, eu não.
Ela gargalhou. De nervoso. Quase que ele se safa, como é que pode esquecer? Só que não tinha mais jeito, não quis nem saber: de hoje não passa. Hoje é a data especial, três anos, bodas de couro e o escambal.
- Espera, acho que os documentos estão lá na agência.
- Tem certeza?
- É uma esperança.
- É uma espera, anta.
A bota fervendo as pernas. A roupinha branca chamativa naquele núcleo corporativo. Ficou no banquinho do jardim do prédio. “Esperanta”. Quinze minutos, ele volta: mãos vazias. Ela puta da vida. Ele se sentindo um bosta. Trotam para o estacionamento.
- Tem dinheiro?
- Tem a última folha do cheque.
- Serve.
- Moça, aceita Redeshop?
Voltaram para Pompeia. Faltava um vulcão nesta história, que não poderia ser ela,motorista que espera na ladeira contra o sol. O caminhão de lixo faz manobra, ela dança junto: de cá pra lá pra não atrapalhar. Ele aparece com os documentos. Foi o que ele disse. Ela põe na FM, rock nacional.
“...Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...”
“...Vejo os outros, todos estão tentando. É tão certo, quanto calor do fogo. Eu já não tenho escolha e participo do seu jogo, eu participo...”
“... Solte um pouco o freio, deixe de receio, encare mais os fatos: sirva ainda frio seu coração...”
Soltou a voz Marginal adentro. Estacionou. Acendeu um cigarro antes de entrar, pediu para ele acompanhar. Calma. Entre uma baforada e outra, ele soprou um “eu quero te dizer tô muito feliz”, talvez não com essas palavras.
Estão estáveis. Assinaram a certidão.
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12 comentários:
Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!
Viva!!!! Felicidade ao casal!!!
Mas é lógico que para se concretizar, teria que acontecer algo que rendesse um belo texto. Se não, não seria a trajetória da vida da paulista catarinense!
Com amor,
Mai
É neste momento que eu agradeço o caos, os erros, os desencontros. Eles te inspiram e nos presenteiam com uma bela narrativa.
Um conto, ao seu jeito de ser e de escrever.
A foto ficou bonita pra caralho.
Um bj da que testemunha - felicidade!
ADOREI! Parabéns a vocês três.
Estava quase te ligando pra saber se tinha rolado tudo ok.
E nós fomos presenteados com suas, sempre ótimas, narrativas.
Benditos encontros e desencontros, sem transtorno não tem história.
Beijo no seu coração.
Tati
Afe, que máximo!
Vanz amei a historia.
Que bacana.
Adoro vcs.
Felicidades
Dani
Lindos! Parabéns e muitas felicidades sempre! Beijos
Viva a estabilidade! Quando rolar a open house a gente faz o casório. Comigo de padre.
Gud vibes!
R
Parabens meus queridos!!!!!!! Muitas felicidades aos dois!!!!!!!
e assim fizemos também, depois a primeira barriga, o casamento civil de chinelo vermelho, a casa, as outras duas barrigas e ele também sempre esquecendo os documentos...
Parabéns, eu supermega amo o casamento. Vc vai ser ainda MAIS feliz. Regiani
hahahha se não fosse assim não era com vc!
FELICIDADE
PAZ
AMOR
td de melhor! bjo ju naday
Van, que feliz surpresa saber dessa novidade! Não te contei, mas um dia o Flavião me confidenciou uma história sobre o dia em que decidiu casar com vc...fala pra ele te contar.
beijos abraçados e felicidade sem fim.
Adoro casamentos. São festas e estilos. Não importa se de branco ou chinelos, com lenço e sem documento, o bom de casar é decidir.
Começa tudo por aí.
Lendo a história de vcs nesse dia, me senti pegando o buquê.
Vanessa e Flávio, que vocês mantenham sempre as mãos dadas.
Vida boa! Saúde! Parabéns!
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