Quando aconteceu, eu não vi.
Era 1991, recém quinze anos plenos de umas tetas fartas que estavam para despontar e uma cintura que não vingava por nada. Estamos no tempo em que três ou quatro cervejas faziam efeito devastador.
Status social eram festinhas nos apartamentos dos meninos do colegial, que já conquistaram a liberdade da casa livre por um final de semana. “É pra chamar só os amiguinhos, tá meu filho?”. Mas os primeiros convidados eram as meninas da oitava série, as que nunca davam trela para os rapazotes de catorze.
Chegávamos todas juntas. A liberdade a cada passo, a blusinha nova da C&A, o luxo possível. Bebidas compradas no posto de gasolina eram o passe para os caras. Às moças, decotes e fendas lhe bastavam – e um pouco de boa disposição ao que viria: bailinho, luz baixa, latinhas e garrafas dançando entre as mãos, já os cigarros diversos proliferando juntos com o estrógeno, dando uma de difícil, e a testosterona, inundando o ambiente.
Minha habilidade política inata me fez popular neste cenário. Sabia dos assuntos delas, sabia dos interesses deles. E como uma autêntica cafetina, unia-os em prol do furor juvenil traduzido em beijos afobados, mãos aceleradas e correria para a intimidade de banheiros, quartos, área de serviço. Minha diversão era armar o palco para as gabações e as fofocas da segunda-feira.
Quanto a mim, já disse, era tempo das quatro cervejas que me bastavam.
Gosto desta coisa do relax etílico desde então. A companhia das garrafas de importados, dispostas no tapete, noite a noite. O sofá me tragando em seus beijos almofadados. Mas naquele outubro, naquela classe média alta, foi o quarto de casal que me teve: largada, espaçosa. Feliz. Até que um peso. Umas mãos forçosas. Um bafo. Um sacudir. Um não, não ouvido. Um sem saber.
Quando aconteci, eu não vi.
[sarau | 29out]
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5 comentários:
Poxaaaaa, e eu ainda perdi isso?? Que ódioooooooooo!!!!! Vc cresce cada vez maisss... Admiro vc cada vez maisss!!!!! Milll beijosssssssssssssssssssss, como se fosse o primeiro!! ui!hahaha MUAH! E eu gosto da sua unha, tá??hahaha
Van, acompanho sua literatura.
Você virou mesmo escritora. Seus textos têm estilo e provocam, têm sarcasmo e sofisticação, têm veneno e melancolia.
Gosto disso.
beijo,
Ana
taí, gostei tb. parabéns
ai, passada, ruiva!
beijos
esse é foda
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