quarta-feira, outubro 21

a ida

Estava tenso. Não. Eu que estava tensa. Não me agradava a ideia de uma amiga deixar de ir (pedi tanto para ela ser egoísta pela primeira vez na vida). Não me agradava as malas ainda por fazer, os briefings ainda por fazer, a lição de casa ainda por fazer. E o almoço foi tão pouco - eu mandei não comprar nada até o dia da viagem e, no dia da viagem, não tinha nada para comer.

Nessas horas, a hora é impiedosa. O motorista chegou antes, o Flávio chegou depois, a Alê ainda no Rio. Nessas horas, umas cervejas na varanda com quem veio se despedir: as abas do nariz tremelicando de nervoso, um algo de esperança de que ela fosse conosco. Nessas horas, a Marginal Tietê faz pirraça. Eu tenho certeza que chegaremos atrasados. Fomos os primeiros da fila.

O Gabriel: pura curiosidade. Perguntava tudo, se metia entre nós, tropeçava, derrubava Guaraná na moça do bar. A vida pulsante naqueles olhos, o corpo sem saber expressar a emoção. Felicidade deve ser isso. Dançamos um tango no check in. Flávio segurava minha bolsa. Alê estava perdida, nos procurando.

Embarcamos. Eu ainda tensa. Colocaram-nos em cadeiras distantes. Eu bicuda até ouvir um "senhora, por favor, minha esposa ficou separada de nós e...", logo estava com eles. Mas ainda tensa. Decolamos. Dor de ouvido, turbulência, choro, sono. Crianças são assim. Eu mais tensa.

Ele não entendia o por quê, eu não sabia o que falar. Mas perto do pouso, brotou: você não me agradeceu por eu ter feito as malas. E embalados por este drama portenho, uma milonga avisou que pisamos em Buenos Aires.

Quando deu meia-noite, dentro do taxi da cidade hermana, Gabriel fez 12 anos.

2 comentários:

Guinéka disse...

Agora eu aguardo as crônicas do durante e da volta!

Ana Paula Marques disse...

lindo!