quarta-feira, julho 21

Já que literatura não vem desperta, que venha dormindo.

Madrugada de 19.07.10. Alexsandra Gerlova* e Maiume Takeuti* co-estrelaram o sonho, que foi este.

Estávamos nós três e outras pessoas que não recordo quem. Era um apê acinzentato, velho e feio que estava passando por reforma. Tinha andaimes que cobriam as paredes descascadas e o pé direito era bem alto. Poucos móveis: cadeira quebrada, cortina esfarrapada, criado-mudo sem pé. Estávamos as três sentadas num colchão de molas furado e sujo. Eu estava doente. Alê me deitou em seu peito, eu sentia os ossos das costelas na minha cara, e Mai passava as mãos rapiadamente em minhas costas, para me esquentar talvez. Havia um homem alto, parecido com o Gustavo mas não era ele. Esse homem estava nervoso, falando que tínhamos que ir embora imediatamente. Então eu olho para uma sacada da década de 1930, aquelas redondinhas e pequenas, cheias de rococós. Percebi que estávamos no centro da cidade, mas não sei de qual cidade. As ruas vazias, sem gente e sem carros. O céu igualmente cinza, daquele esbranquiçado que dói os olhos. Neblina ou fumaça em todo lugar. Então eu acho que desmaiei no sonho, por que não via mais nada mas ouvia vocês* conversando com esse homem. Essa escuridão demorou. Quando as imagens voltaram, já estávamos as três caminhados sozinhas na via Anchieta sentido SP. Apesar de não ter carros, andávamos pelo acostamento. Sabíamos que tinha mais gente conosco mas não enxergávamos ninguém. Então Alê quis provar que estavam nos vigiando e começou a correr e dançar em frente a uma câmera de monitoramento de trânsito. Enquanto corria ao redor do poste da câmera, a câmera a acompanhava. E Alê falava "tá vendo, eu sei que não tem só a gente aqui". Continuamos caminhando com a câmera nos focalizando, de costas agora - eu nos via pelos "olhos" da câmera de vigilância muitas vezes durante o sonho. Iniciamos uma subida. Estávamos exaustas, fugindo do que parecia uma guerra, uma explosão nuclear, algo muito ruim. Até este momento, eu não falava nada no sonho. A única frase que disse foi o que mudou o sonho. Mai disse "graças a Deus que a gente está viva". Então, minha fala: "graças a Deus o caralho! A gente tá viva por que a gente lutou pra isso". E com esta blasfêmia, surge um novo homem (um produtor que freelou comigo e que eu não gosto dele) que vem correndo pela subida, ultrapassa-nos e para em frente a uma guarita bem alta, como aquelas torres em fortalezas medievais - dentro da guarita, um homem coloca fones de ouvido e abaixa a cabeça pra não nos ver. Nós nos assustamos, mas o maior susto foi quando esse cara que subiu correndo puxa um revólver e atira em mim. Só que a bala passa entre eu e a Mai, num efeito que não é como o de Matrix. Como não conseguiu me acertar, esse cara vem até mim, me puxa pelo cabelo, manda eu soprar um saco plástico até virar um balão, e aí atira na minha cabeça, só que acerta o balão. Vocês duas* não podem fazer nada, só assistir a bizarrice. Como não me acertou, o cara manda eu segurar uma pedra bem no alto da minha cabeça, com as duas mãos, aí ele atira mas acerta a pedra. Então o homem me ajoelha para atirar na minha nuca, mas a bala passa do lado do meu pescoço e acerta o asfalto. Então o homem me deita no asfalto, pisa nas minhas costas, encosta o cano na minha cabeça e pow, a bala trava na agulha. Aí eu me levanto e corro, nisso o cara atira e a bala passa do meu lado mas não me pega. Quando paro e olho pra trás, o cara já tá na minha frente, olho no olho, e atira na testa. E acabaram as balas! Aí surge a maior multidão e esse cara de repente vira uma espécie de guia ou líder das pessoas e todos o seguem e eu não posso fazer nada contra ele, eu não consigo nem gritar! Aí sabe o que eu faço? Eu saio desse grupo, subo na torre e caio matando de porrada no cara que tava lá em cima, fingindo que não viu isso tudo acontecer.

Na cama, eu estou esperneando e esmurrando o ar, meu corpo reproduzindo toda a pancadaria na íntegra. É então que Flávio me acorda. Eu não o reconheço, não reconheço o quarto, dou um berro gutural, faço força pra ele me soltar, fico de pé em cima da cama. Flávio se levanta junto pra me acalmar, me abraçar. E eu só pensava em tirar vocês* da Anchieta, avisar que eu estava em casa, e que vocês não precisariam acordar.