terça-feira, janeiro 29

mesmo que seja eu

Marina Lima e sua voz rouca têm povoado minha mente nesses dias cinzas e noites geladas.
É que estou mais sozinha. E gosto. Mesmo que chore de saudade algumas vezes.
Motivo grande, não tem. Mas eu me deixo chorar. É bom ter saudade de quem eu vou encontrar.
Talvez sexta a noite.



Tremendão, na voz de Marinão:

Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão meu bem
Quando acordou, estava sem ninguém.

Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
E no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
da solidão.

Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto prá secar seu pranto

Aumenta o radio
Me dê a mão.

Você precisa é de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu.

Um homem pra chamar de seu
mesmo que seja eu.

quinta-feira, janeiro 24

por aí

Quinta-feira pré-feriado. Ô coisa ótima! Finalmente acordei em um horário bom - bom pra mim, claro. Quis me dar um presente chamado tempo. Resolvi montar a mesa de café da manhã, ouvir música, dar beijo de “bom-dia, amor”, tomar um banho de barba-cabelo-bigode, bem longo. Saí de casa mais de dez da manhã. Foda-se.

Logo ali a Santo Amaro me aguardava para três quilômetros de surpresas no asfalto. A cidade e eu temos um jogo: descobrir as surpresas do caminho. E surpresa é olhar por aí e ver o que é bonito e que passa batido. Tá ali pra você achar. Eu já jogo faz tempo e sou bem treinada. Hoje, meninos, eu vi:

Uma calçada CMYK. Provavelmente um cartucho de tinta em pó para impressora estourou na calçada e coloriu o caminho de cian, magenta, amarelo e preto. Ficou lindão.

Um jardim ambulante. Uma Saveiro levava um monte de copos-de-leite na carroceria, e aí ficou um jardim trafegando bem na minha frente, a 28km/h.

Um muro livre pra você, grafiteiro. Num muro salmão estava grafitado "Permitido Graffitti e Stencil". E vi que ninguém das artes urbanas achou esse achado!

Um moto-dancer-boy. O motoboy parou ao meu lado no farol, ouviu a música do meu carro e sacolejou-se com os dedos no guidão, com os joelhos e com os pés. Põe DJ Tiga e dança comigo, galera.

É ousadia minha, mas eu vou dizer pra você:
Veja mais do que existe. Permita-se sentir. Juro que é bem bom.

sábado, janeiro 19

janeiro

É janeiro, mês de férias. Férias para quem estuda, pois o proletariado segue seu curso. Os chefes, a maioria está de férias. As pessoas estão pelo mundo afora e por aqui é possível achar vazios. São Paulo está agradável, mesmo com calores de 40º ao meio dia ou chuvas que inundam às seis da tarde - culpa do nosso péssimo planejamento urbano.
A temperatura é agradável nas noites, que convidam para barzinhos com cerveja gelada jorrando nas calçadas e amigos celebrando em voz alta. Depois da minha última crise de amidalite, não posso mais falar alto que dói. Mas não me contenho e falo muito, alto ou não. Falo por estar feliz com minhas amigas numa dessas mesas de barzinhos cool da Vila Madalena. No dia seguinte, sussuro carinhos em um ouvido e a voz descansa para voltar a ser grave e rouca e dasafinadamente charmosa.
Agora é horário de verão, é invasão de formiguinhas pela casa, é sol até oito da noite, é de roupas coloridas, é vontade de contar histórias, de fugir para o mar nos fins de semana, de envolver-se com as pessoas a toda hora. Janeiro é bom demais.

para um bem

Quem quer chorar de te ver assim sou eu, meu bem, eu. Eu que tenho o dom de martirizar. Que sufoco com a dor dos outros. Que tento ajudar e não encontro o caminho. Sou eu que acho bonito a chuva ambígua - que lava e leva as almas. Eu que acho bonito as línguas de lava dos vulcões - que ganham o céu e levam ao céu. Eu que consigo ver razão nas desgraças minhas e alheias, eu que aceito. Tudo. Menos quando vem essa angústia. De não saber o que fazer. Fazer por você, meu bem. Eu tento, mas parece que você não quer que eu consiga. Olha nos meus olhos com clareza e me diz, meu bem: o que eu posso fazer por você?
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///Penso agora que o melhor é que eu não consiga, para que você, meu bem, consiga ser o seu melhor.

quinta-feira, janeiro 17

segunda-feira, janeiro 14

Que coisa mais estranha: virei adulta bem agora.

Tem cura, Doutor?
Viver, enquanto vida houver.
Aos 29 anos eu me dei conta de que o mundo ao meu redor cheira leite materno.

Duas amigas acabaram de dar a luz pela segunda vez: agora Paty tem Juju e baby Arthur e Aninha tem Lolô e baby Manu. Outro amigo, o Eric, acaba de virar pai da Lola. Meu dupla de criação, Edu, baba mais que o próprio filho, o Otto, a cada ligação da Karina contando as novas descobertas do pequeno moicano. Dani, minha maninha, descobriu semana passada que leva um guri no ventre. Aí eu pirei de medo de nunca ficar grávida ou de ficar grávida justo agora, com tanto que quero fazer (e nada que pode me deter).

Num dia ruim de um ar sufocante de pêsames, quando beber foi meu único consolo, conversava com as amigas e deitei em angústia. Num outro dia, de uma manhã quente, bonita e sonolenta, levei o tema para a análise e a angústia dormiu. Exagero é achar que tudo vai ser agora ou nunca.

Hoje foi um dia com altas taxas de uma testosterona abusada que invadiu meu corpo, minhas palavras e meu rosto, agora banhado em espinhas. Mas depois de acabada sua função no meu cliclo de fêmea, o hormônio-macho me deixou em paz para reencontrar o sossego que gosto pra mim. Fim do exagero.

Aos 29 anos eu me dei conta de que o mundo ao meu redor cheira de tudo, e de que eu só tenho 29 anos.

Tudo é quando deve ser.

terça-feira, janeiro 8









A viagem de ano novo foi um verdadeiro show de talentos. Teve de tudo: surfistas de onda punk e de marola, guias ecoturísticos, cantores revelação, dançarinos, cozinheiras, churrasqueiros, ecologistas, musicistas e incríveis lavadores de louças, de muita louça.

Mas de tantas revelações fenomenais, a que mais me surpreendeu foi descobrirem que minhas caipirinhas são gostosas pra dedéu. A turma que disse. Então eu acredito.

Van-pirinha: é frisson todo momento.

cine-promessa

Quinta-feira passada a Tríade assistiu ao filme mais decepcionante do verão: O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA. Minha devoção a Garcia Marques impediu-me de ver a película sem olhos críticos. Fiquei triste com o frenético mosaico de cenas: o diretor se perdeu em takes curtos, cortes secos, desconexos. Nem a atmosfera cult do Reserva Cultural salvou a noite. Foi decepcionante por tudo.

Mas logo fui presenteada com duas obras maravilhosas exibidas no Unibanco, admiradas em companhia do meu gostoso.

Sábado, meia-noite: A VIDA DOS OUTROS
A nata da arte da Alemanha Oriental está sob constante vigilância do Partido. Acontece que o escritor queridinho, que até então estava acima de qualquer suspeita, passa a ser vigiado. E aí começa a magia: o araponga designado para espioná-lo é tocado pela arte, pela música e pela poesia. Pela vida dos outros. Ele inventa banalidades em seus relatórios e, por conta disso, o Partido não descobre que os escritores estão preparando um manifesto para divulgar as barbáries desta Alemanha pré-queda do muro. Por conta desse manifesto, começa uma pressão social para acabar com a divisão da Alemanha. A transformação do espião cruel em cidadão é fantástica! Filmaço!

Domingo, 20h: VIAGEM A DARJEELING
O pai morreu, a mãe sumiu, e então três irmãos americanos embarcam numa viagem (que deveria ser espiritual) à Índia. A viagem é feita de trem e lá os três brothers expurgam seus fantasmas: um tem um relacionamento psicótico, outro está fugindo de ser pai e outro tem certeza que dinheiro é tudo. Fora o problema de convivência entre os três, que é amenizado quando fatos da vida despertam “o Deus interior” de cada um. Sabe A pequena Miss Sunshine? O humor negro é no mesmo tom. Bom demais! Perfeito para um passeio de domingo.

Prometi que em 2008 irei ao cinema no mínimo duas vezes por mês. Sem muitos planos, já bati a meta de janeiro e ainda quero mais: o próximo da lista será EM PARIS.

Aos oito de 2008

No alto: Grega, Flavius e Raul. Na frente: Lu, Gabi "Saulo", Carol, Mai e eu.