terça-feira, maio 27

bom assim

sai de mim

Então encontrei o mar. Um sol morno, pouca gente na areia, nosso lugar reservado.
Ele, majestoso, urrava em ondas fortes, espumava mostrando quem é o dono.
Observei-o por muito tempo antes de me banhar de coragem e ir. Fiquei ali sentada, um tanto contemplativa, agradecendo e pedindo. Estava ansiosa por esse momento, há cinco meses não nos encontrávamos. Estava para nascer um instante mágico.
Soltei o cabelo, que já estava um bagaço, fingi estar num comercial de Elseve, mas ventava pouco e a juba engruvinhada não surtiu o movimento esperado para impressionar a platéia.
Levantei-me e, acompanhada por um homem de 10 anos, me aventurei. Antes, ordenei: sai de mim gripe maldita que não me pertence! Sai fora dor de estômago do cão.
O mar me ouviu. Mas, além da gripe e da dor, tirou-me também a tanga.

segunda-feira, maio 26

de.atitude


gabi e vanz in: chillibeanszados

sexta-feira, maio 23

dos.outros

Semaninha curta que está como uma eternidade.

Fui tomada por uma gripe que se revelou um belo clichê, então, para curá-la, tomei duas coisas: primeiro, tomei ácido acetilsalicílico, o que realmente aliviou os sintomas, e na seqüência tomei no cu, pois esqueci que sou alérgica ao acetilsalicílico. O resultado foi uma dor de estômago inédita, que culminou em enjôos, ânsias, taquicardias unidos a catarro e suor febril e, finalmente, vômito. Eis o Romance das Secreções se rebelando.

Ilmo está engavetado há quase dois meses e eu não gosto mais do destino que escrevi para ele. Foi só externar este pensamento semana passada que o vingativo sangue de Ilmo quis me eliminar, fazendo de mim o que eu sugiro em minha história metafísica. Abro um parenteses aqui: me dei conta de que esta era a vingança de Ilmo por conta de Fellipe, que escreveu em seu blog sobre sua possessão gripal. Aí entendi tudo: Ilmo me tirou de circulação para se aconchegar a mim neste meu sofá acostumado à solidão, fez isso para ficarmos mais íntimos, nos amando embaixo de edredons esporrados. Assim é.

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Então, de quarta-feira para cá, fiquei muito sozinha e amargurada, vendo meus planos desabarem. Fiquei terrivelvemente puta da vida por não sair com os queridos da AIC, nem quarta nem quinta. Emputeci-me de tal maneira quando não pude ver o grisalho, nem quarta nem quinta. Virei o demônio quando não encontrei as meninas, nem quarta nem quinta. Aí ontem, naquela noite linda, eu no sofá já melhorando, implorei: Ilmo, você está me sufocando. Vou encontrar as meninas amanhã e você vai jogar futebol com os caras.

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Os planos continuaram desabando. Fiz de tudo para conseguir ir para praia nesse último feriado, até que descobri que trabalharia na 6a feira. Falei com chefe, que concordou em trabalharmos na 5a para emendar três dias. Assim feito, soltei no ar: vamos viajar 6a feira, meio na doideira, sem pousada reservada e nada, e voltar no domingo de manhã. Mas como meus planos não querem mais ser solitários, também devo me adequar aos outros. E os outros não podem. Mas surgiu uma esperança: um bate-volta na praia no sábado. Aí aceitaram.

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Estou uma baita egoísta ultimamente, tanto que estou pedindo muitas desculpas.

Dia desses um moleque tentou me assaltar e o vidro elétrico não subia enquanto o puto enfiava os braços dentro do meu carro. Eu, apertando o botãozinho do vidro com a mão direita e tirando os braços do corno com a esquerda, repetia:
- Não tenho dinheiro, desculpa, não tenho dinheiro, desculpa, não tenho, desculpa, desculpa.
Cuidado com o cruzamento entre a Al. Santos e a Brigadeiro.

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Na clausura, tomando mais três coisas: hidróxidos de alumínio, de magnésio e de reflexão. Fugindo do meu silêncio, fui procurar abrigo nos blogs dos amigos. Lá nos textos do Ali levei um tapaço na cara. Foi lá que percebi a gigantesca mudança que estão me propondo. Eu procurei por isso e a transformação vem vindo, matuta. Agora noto que estou tão afobada que estou para perder a mão: acho que coloquei mais farinha e periga ficar um bolo seco. É que eu não sei cozinhar e acho que viver seis anos sozinha também me deixou seca.

A reflexão é: sem os rótulos que eu tanto lutei para conseguir, certamente havia mais leveza. Tanta leveza que, para mim, soava vapor. Pois desejei um mundo estruturado e aí está ele, se arreganhando para mim, e que me agrada, mas tenho dúvidas de que agrada os outros.

Esse meu vício por organização pode acabar comigo. Queria tanto ser mais porralôca.

quinta-feira, maio 15

O galo da temperatura

Quando eu era criança e ainda não tinha vontade própria, não que eu não tivesse vontade própria, mas, por ser criança, minha opinião não influenciava a vida familiar, enfim, quando eu era criança e não tinha vontade própria, era obrigada a ir para Aparecida do Norte toda vez que minha avó materna ou minha avó paterna vinham para São Paulo. E elas vinham todo ano. Uma vez por ano cada.

A romaria começava no metrô Santa Cecília, fim da linha leste-oeste na época. Antes descíamos a Avenida Angélica e virávamos na Alameda Barros, tudo a pé, que é mais saudável, dizia minha mãe. Na estação, minha avó materna tinha medo de escada rolante achando que seria engolida pelos degraus, enquanto que minha avó paterna tinha certeza que cairia no vão entre a plataforma e o trem. Nunca ninguém foi engolido, nem se estrebuchou no vão.

Multidão na baldeação da Sé e finalmente chegávamos a estação Tietê, onde descíamos acoplados à massa humana que circulava entre a quase total ausência de placas de comunicação. As pessoas iam, vinham, se perdiam. Mas nós, não: sabíamos direitinho onde era o guichê da Cometa e em quais plataformas estavam os ônibus para o Vale do Paraíba.

No ônibus meu desconforto continuava. Até os dez anos de idade a criança podia ir no colo. O problema é que, aos dez anos, eu já media 1,55 metro. Então eu ficava de colo em colo, amassando as tetas da mãe e das tias. As avós cochilavam tranquilamente durante as duas horas do meu martírio-mirim.

Na rodoviária de Aparecida, eu chegava exausta e bem puta da vida, sem saber que estava puta da vida porque, como disse, era criança e ainda não sabia o que é estar puta da vida. Mas, enfim, o dia prosseguia, comigo puta da vida mesmo: era visita à basílica velha, visita à basílica nova e, entre elas, visita à uma ponte sem fim, uma sala dos milagres sem fim e uma missa sem fim. Por fim, eu voltava deitada no chão, entre os espaços dos bancos do Cometa, dividindo área com as baratinhas.

O Santuário de Aparecida do Norte tinha tudo para ser minha desgraça particular, mas foi lá, visitando a feirinha de artesanato, que encontrei o real sentido da minha vida: o galo da temperatura.

Este curioso artefato turístico é pura e simplesmente um galo que muda de cor de acordo com a temperatura. Está calor, ele fica rosa-claro. Está ameno, fica lilás. Está frio, roxo. Está a maior friaca, ele fica azul arroxeado quase preto.

Foi observando o galo da temperatura que entendi meu dom. Deus me deu uma má formação congênita dos vasos sangüíneos, o que formou uma lesão na pele conhecida como hemangioma. Esta lesão, normal a 50% dos bebês, desaparece até um ano de idade. Mas o meu hemangioma ficou – e ficou no pé direito, para conectar-se diretamente ao solo, variando entre as nuances rosa-clara até quase preta, dependendo do clima. Meu dom, senhores, é que eu sou a galinha da temperatura. Amém.

terça-feira, maio 13

da.amizade

Tatiana Abreu, Alexsandra Gerlova, Carolina Campos, Vanessa Guedes e Maiume Takeuti. Após dez meses de um oceano de saudade, finalmente, na noite desta última segunda-feira, as amigas se reencontraram.
Bah, como é bom!

Perfis, por Tatiana Abreu, nossa fotógrafa mais amada do mundo.
Que delícia ter você conosco, assim tão linda, tão forte, tão Tati.

tema secreto

FUGA
Esses estranhos que me rondam são os demônios que cismam em me levar, mas no inferno deles eu não entro, não. Aqui nesse canto de muro é tão bonito, tem florzinhas e formiguinhas de monte e logo meus colegas de classe trarão meus pais para me salvar, mas esses demônios me puxam e me tiram daqui, só que antes eu faço minha algazarra na surdina, dando risinhos baixinhos pra eles não me ouvirem nunca mais e me largarem aqui, por que gosto de me cagar todo e sentar em cima (o que que tem?, é quentinho, é meu) e eu sento nesse lodaçal e me protejo até que a mamãe venha. Essa é a poção anti-demônios que eu jogo em cima deles com minhas mãos cheias toda vez que fujo daquela sala sem cor e venho aqui pro meu muro. Meu muro é tão bonito, tem vezes que as formiguinhas andam em mim, meu muro é tão bonito.

O problema é que eles, esses demônios, já sabem me encontrar e, pra se livrar da merda que sou, jogam em mim água fria e choram de nojo, todo dia os demônios choram de nojo, cada dia é um demônio novo que vem me atazanar e que chora de nojo. Quem é você, demônio novo? Por que é que o demônio de ontem não voltou? Eu gosto mais do outro demônio que de você, seu vá-de-reto! Não adianta que eles me perseguem e me encontram aqui no bico do muro e uns moleques que eu nunca vi ficam rindo de mim enquanto o demônio novo chora de nojo (que nojo?, que tem?). Quem é você, demônio novo? Eu gostava mais do demônio de ontem, de você eu não gosto não!

Aí eu corro – como se eu pudesse voar – eu corro bem longe pra achar meus pais que não vieram mais por que eu acho que os demônios já os prenderam e querem me prender também, só que eles não vão me levar por que me cago todo e eles choram de nojo, todo dia eles choram de nojo, aí jogam água fria e eu fico quieto, quietinho como a professora falou, que é pra esperar a aula acabar e voltar pra casa. Lá em casa tem um muro tão bonito com formigueiro subindo nas trepadeiras que meu pai plantou, mas tem esses moleques que riem de mim, eles são novos e eu não gosto deles, mas gosto mais deles que desses demônios, então eu fico aqui feliz com as formigas, mas os demônios me acham, me levam pra sala sem cor.

Os demônios choram todo dia de nojo.

domingo, maio 11

o rei, a rainha e a serva

Senhourinhas meia-idade, de estatura miúda e fofinhas por natureza, foram minhas companhias na noite de sábado. Elas, com seus gritinhos de fãs implodindo o Ginásio do Ibirapuera, batiam palminhas, gritavam "gostosoooo" e se requebravam ao ouvir as canções feitas às baixinhas, às gordinhas, à mulher de 40... Mas eu me esgoelei toda quando tocou Jovem Guarda - aliás, eu era a única. Vai entender...

Tudo por um dia das mães classudo com show do Rei Roberto Carlos.

"Meu bem qualquer instante que eu fico sem te ver
Aumenta a saudade que eu sinto de você
Então eu corro demais, sofro demais, corro demais
Só prá te ver, meu bem!..."

De lá, corri para meu grisalho. E a madrugada ganhou iê-iê-iê.

terça-feira, maio 6

super trunfo católico

Momento relax para "fumo e café com leite", com a Mari:
- Quer um pedacinho (de Laka)?
- Não, eu fiz promessa pra São José e... (três minutos contando a saga).
- Ah é? Quando eu preciso eu peço pra Santo Expedito, São Judas...
- Que nada! São José é o bam-bam-bam dos santos das causas impossív...
Kerges intervém:
- Nooossa! Imagina criar um super trunfo dos santos!?

Creia, povo de Deus: o jogo já existe. Olha só:

Essa é pra quem gosta de reedições/reinvenções de jogos clássicos com temáticas diferentes. O baralho criado por Antenor Savoldi, Pablo Bohrz e Eduardo Menezes, traz os santos da igreja católica em suas cartas alterando os atributos normalmente dados a veículos para índices como:fé, número de devotos, número de milagres atribuídos, ano de canonização e RPM (Reação ao Pecado e a Mentira).

Além de se divertir com o jogo, dá pra dar boas risadas comparando os atributos entre os personagens. Um exemplo é São Tomé, que por “só acreditar vendo” tem apenas 20% de fé ao contrário de São José que acreditou piamente naquela história de concepção divina e foi agraciado com o máximo de pontos no quesito.


São José para presidente! Tô falando: o cara resolve.
Mas tá foda esses 49 dias sem chocolate...

* info do blog Sedentário & Hiperativo: http://www.sedentario.org/page/2/

domingo, maio 4

microvidas: os contos da verdade

SERÃO
- Você acha poodle inteligente?
- Não para cargos executivos.
(Alexandre Barbosa de Souza)

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A BÍBLIA (SPECIAL FEATURES)
Olha, Pai, eu tentei,
mas acho que
não deu muito certo não...
(Antonio Prata)

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- Diz que me ama.
- Aí é mais caro.
(Beto Villa)

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Uma vida inteira pela frente.
O tiro veio por trás.
(Cíntia Moscovich)

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FOSSA
Faço amizade comigo
para tomar uma cerveja
(Fabrício Carpinejar)

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DUELOS
"E agora, eu e você", disse,
sacando o punhal,
na sala de espelhos.
(Flávio Carneiro)

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O EUTANAZISTA
Não podendo eliminar
o resto da humanidade,
suicidou-se.
(Glauco Mattoso)

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Moça de imaginação fértil,
pegou uma gravidez psicológica.
(Índigo)

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PACTO
- Aí.
- Aqui?
- É. Enfia. Uh!
- Doeu?
- Doeu. Sangra?
- Bastante. É o fim?
- Já, já.
(Laerte)

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BOLETIM DE CARNAVAL
- Fui estuprada, vó. Três animais!
- E tu esperava o quê? Um noivo?
(Luiz Roberto Guedes)

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- Então se ama, tira a roupa.
(Márcia Denser)

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CEIA EM FAMÍLIA
- Sempre foi um bom pai.
- Ótimo. Passa um pedaço do fígado.
(Mauro Pinheiro)

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CHICO
- Se atrasa, preocupa.
Quando chega, incomoda.
- Menstruação?
- Meu marido.
(Nelson de Oliveira)

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MONÓLOGO COM A SOMBRA
Não adianta me seguir.
Estou tão perdido quanto você.
(Rogério Augusto)

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CRIAÇÃO
No sétimo dia, Deus descansou.
Quando acordou, já era tarde.
(Tatiana Blum)

*Extraídos de "Os cem menores contos brasileiro do século", organizados por Marcelino Freire, que desafiou cem escritores brasileiros a escrever histórias inéditas de até cinquenta letras. Aqui tem 15% da obra. Será que serei processada pela reprodução informando a fonte? Não, né...

humano

Hoje soube da coisa mais linda e mais triste do mundo.
Chorei sem mais por quês.

quinta-feira, maio 1

primeiro de maio: dia da mentira

Tantas vezes já confessei minha compulsão por atrasos que decidi instituir que hoje, primeiro de maio, é o dia oficial da mentira. Um fato assim merece feriado nacional e hoje, vejam só, é feriado em diversos - se não em todos - países. Digamos que o mundo celebra a data e isso é muito justo, pois mentira é de todo mundo. Um brinde!

Por que isso?

Acontece que esta semana tive a certeza que sou uma Fraude. Sim, leitor, sou uma Fraude com um F bem maiúsculo: de falsária, de fingida, de fodida. Tenho um "efezão" de Fraude cravado no crânio mas o cabelo esconde. Juro pra você.

Muito bem, você deve pensar que este é um abuso da licença poética ou do exagero. Provo que não: eu conto o que o outro quer ler ou ouvir, brinco de mentirinhas nos lay outs, uso a artimanha das palavras para meu ganha-pão e, mesmo assim, ainda não decorei a regra da crase, nem sei quando se usa por que, porque, porquê e por quê. Quer mais? Eu seduzo: oras, quem não o faz? Mas eu faço muito bem, poxa se faço. Também sou uma baita duma interesseira: só me cerco das pessoas que têm o que oferecer - mas também dou amizade, paixão, sorriso e até amor em troca. Mentiras sinceras me interessam pra caralho.

Das mentiras: não há coragem de escrevê-las no meu diário das emoções, um livretinho que carrego onde pincelo fatos auto-biográficos que serão usados, um dia quem sabe, em alguma obra literária a ser realizada. Tive coragem de escrever "Das humilhações" e "Das vinganças açúcaradas", atos e situações que encheriam qualquer um de vergonha ou do mais profundo orgulho. Mas as mentiras continuam aqui dentro, comigo. A verdade está lá fora - e que lá fique.

Estou muito confusa em determinar quem sou. Porque não sei se sou uma redatora boa, uma planejadora das idéias alheias e minhas, uma escrivinhadora, uma pré-escritora encasulada ou uma charlatã. Por ser tudo e ser nada, por enquanto, decidi que a mentira me cai bem.


A mentira não tem rosto, mas garanto que uma de suas faces tem um louro mel tingido displicente, sobrancelhas cuidadas com quase minúcia, ceguice ajeitada com lente de contatos, nariz charmosamente torto e dentes de porcelana. Agora, dizer que ela tem perna curta é mentira.

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O blog de criação literária da AIC estreou hoje. Seu nome: MENTIRAS DE VERDADE. Acabo de ler e transbordei de orgulho. É que o Fellipe (Fernandes) fez um texto de abertura que me convenceu que ser uma mentira é ser a maior verdade que há. E nós, literatos, encorporamos a mentira com maestria. Se a curiosidade transbordou em seus poros, a dica é dar uma passadinha por lá (o link está lá em cima).