terça-feira, julho 31

coragem


Dani é a amiga que chamo de "maninha". Ela só é três anos mais nova do que eu e, como sou filha única, penso que minha irmã mais nova seria como ela.
Dani põe a cara no mundo. Era péssima arte-finalista e corrigiu seu rumo transformando-se em uma excelente produtora de eventos. Agora marca sua história como uma excepcional produtora de promoção.
Dani quis ter carro e comprou. Se fodeu para pagar mas foi lá e fez.
Dani quis morar sozinha e foi. Se fodeu para pagar mas foi lá e fez.
Dani quis um grande amor em sua vida e conseguiu. Se fodeu (como toda mulher que ama) mas foi lá e fez.
Hoje fizemos nosso programa predileto: ir no japa pra comer feito orcas e falar falar falar. Dani estava triste. Muito do que ela foi lá e fez teve que sofrer uma mudança de rumo. Mais uma.
Dani fará 26 anos em agosto, eu completo 29 no mês seguinte. A diferença de idade é pouca mas eu sei o que ela está sentindo. Também já passei por esses fatos que transformam a nossa vida e hoje agradeço.
Dani também será grata, vai lá de novo e vai fazer melhor.

segunda-feira, julho 30

todo

Tua voz sussurou para mim. Eu me entrego.

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
Que ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio pra dar alegria

Cazuza:::Todo amor que houver nessa vida

1,67m


Quem diria que coisinha tão fofa assim alcançaria quase um metro e setenta.

fome

Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo,
e pelas ruas vou sem nutrir-me, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,
busco o som líquido de teus pés no dia.

Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como uma intacta amêndoa.

Quero comer o raio queimado em tua beleza,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas pestanas

e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratúe.

Quitratúe. Quitratúe? Sempre há uma palavra nos versos de Neruda que eu não tenho idéia do que signifique. Mas o todo fica entendido. O problema é que fico inquieta com essa minha fome de palavras que clama com urgência por um dicionário de sinônimos.

domingo, julho 29

suspiros

1) Entrega total. Essas foram as palavras que ouvi neste domingo cinza, num abrigo aconchegante, através de um sopro perto do meu pescoço. Achei mais profundo do que meus insistentes eu te amo. É sincero.

2) Faz 6ºC na cidade de São Paulo. Foi assim o fim de semana todo. Meu corpo mandou: vá ibernar. Virei ursa polar sem culpa.

3) Não suporto zombaria, mas cometi esta injustiça com a mulher que mais amo. Ela, que me ama incondicionalmente, fingiu sinceramente aceitar minhas desculpas. Não adiantou. Estou envergonhada.

4) Minha querida Tati contou-me suas dificuldades. Fiquei surpresa ao saber que ela pensou em desistir. Eu preciso da força e da coragem dela nesse mundo, seja aqui ou do outro lado do Atlântico.

quarta-feira, julho 25

ninho

Busco a chave já no elevador. O chão do corredor faz barulho engraçado. A chave do meio abre meu ninho. Agora a tatilrana fica acesa vinte e quatro horas só para eu ter o prazer de ver suas luzes avermelhadas e alaranjada. Entro com o pé direito, sempre. Jogo a bolsa em cima da mesa mas depois tiro, porque acho que fica feio.
Bons pássaros voam para meu ninho. Toda as segundas têm sessão Lost. Algumas noites têm sessão papo com a vizinha. Outras têm sessão cigarro com a maninha. Poucas madrugadas e manhãs têm sessão alegria com o gato. Recebo-os sempre com alegria e cerveja. Ou saquê ou vinho ou Absolut. E cigarros que esfumaçam janela afora.
Fui ter janela aos vinte e três anos. Desde então, exijo janelas para a vida lá fora. Já sobrevivi à ônibus ladeira acima, à baladeiro bêbado serenateando, à mendigo tirando samba na caixa de pizza. Tudo debaixo da minha janela. Voei pra longe e fiz amizade com uns periquitinhos muito dos alegres que vivem no topo da árvore que acaba na minha nova janela. Verdes, verdinhos, barulhentos e felizes.
Gosto deles mas, na essência, sou pássaro-só.

segunda-feira, julho 23

saudade




tua falta
me dói.

quinta-feira, julho 19

cantos

Inventei um mundo meu. Estou construindo aos poucos, quando vem a inspiração. É um mundo pequeno e jeitoso, pra mim tem cara de sonho. Da vontade de criar o meu, expresso-me egoísta mas nem tanto: quero devorar e cuspir fatos e sentimentos.
"De tanto amor minha vida se tingiu de violeta" é título e primeiro verso de um poema de Neruda, como não podia deixar de ser. Apropriei-me. Assim como estou tomando várias coisas para mim. Estou virando gente grande.