quinta-feira, outubro 30

A primeira

Quando aconteceu, eu não vi.

Era 1991, recém quinze anos plenos de umas tetas fartas que estavam para despontar e uma cintura que não vingava por nada. Estamos no tempo em que três ou quatro cervejas faziam efeito devastador.

Status social eram festinhas nos apartamentos dos meninos do colegial, que já conquistaram a liberdade da casa livre por um final de semana. “É pra chamar só os amiguinhos, tá meu filho?”. Mas os primeiros convidados eram as meninas da oitava série, as que nunca davam trela para os rapazotes de catorze.

Chegávamos todas juntas. A liberdade a cada passo, a blusinha nova da C&A, o luxo possível. Bebidas compradas no posto de gasolina eram o passe para os caras. Às moças, decotes e fendas lhe bastavam – e um pouco de boa disposição ao que viria: bailinho, luz baixa, latinhas e garrafas dançando entre as mãos, já os cigarros diversos proliferando juntos com o estrógeno, dando uma de difícil, e a testosterona, inundando o ambiente.

Minha habilidade política inata me fez popular neste cenário. Sabia dos assuntos delas, sabia dos interesses deles. E como uma autêntica cafetina, unia-os em prol do furor juvenil traduzido em beijos afobados, mãos aceleradas e correria para a intimidade de banheiros, quartos, área de serviço. Minha diversão era armar o palco para as gabações e as fofocas da segunda-feira.

Quanto a mim, já disse, era tempo das quatro cervejas que me bastavam.

Gosto desta coisa do relax etílico desde então. A companhia das garrafas de importados, dispostas no tapete, noite a noite. O sofá me tragando em seus beijos almofadados. Mas naquele outubro, naquela classe média alta, foi o quarto de casal que me teve: largada, espaçosa. Feliz. Até que um peso. Umas mãos forçosas. Um bafo. Um sacudir. Um não, não ouvido. Um sem saber.

Quando aconteci, eu não vi.

[sarau | 29out]

terça-feira, outubro 28

estréia

Enfim, queimalinguei no blog coletivo das cinco pin-ups, com dois posts.
Um já conhecido deste Prosa Presa. Outro, o inédito Maria Francesa.
Vá já para http://queimalingua.wordpress.com
Se eu soubesse inserir link, juro que fazia isso pra te facilitar a vida. Mas não sabendo, recomendo o velho "copia e cola na URL" que funciona que é uma maravilha.

segunda-feira, outubro 27

o eu absoluto

quarta | 29 | Casa das Rosas | 19h30

sexta-feira, outubro 24

pelo calor de Deus

Nesta sexta-feira, eu queria tanto uma calçaca com ar morno e cerveja gelada, na rua do bairro que eu sonho morar, no bar que é como minha casa. Com poucos e bons amigos, com menos pompa e mais amendoim.
No sábado, eu quero que o moço da NET conserte o decoder e eu volte a assistir a todos os canais que não posso ver desde que a Globo travou na minha TV e nunca mais partiu.
Depois quero unhas com esmalte diferente. E almoço com meus pais. E mais a noite encontrar meu gato, ficar linda pra ele rodopiar comigo na festa da minha amiga Marianita Buena Onda.
No domingo, eu quero ficar na cama até a hora que quiser. Levantar só pra fazer xixi, ter um brunch e voltar pra cama. Pra não dormir.
E na segunda-feira, voltar a 120km/h. Que eu tô adorando dirigir em alta.

quarta-feira, outubro 22

invertidas

Situação 1) das fotos
enquanto os pais sacam o celular e mostram fotos dos bebês, não tem grilo: eu saco meu celular e mostro a foto do namorado.

Situação 2) das festas
enquanto os pais vão felizes nas festinhas da escola de dia dos pais, das mães, da árvore... eu vou feliz em churrascos, pizzadas, shows e festas familiares afins.

Situação 3) da educação
enquanto os pais usam de sua experiência para mostrar o caminho mais adequado aos pitucos, eu faço o mesmo com minhas amigas.

Situação 4) dos sobressaltos
enquanto os pais saem correndo no meio da tarde e largam tudo para prestar socorro, eu também faço isso: pelo meus pais. [Inversão de papéis. Você também pode sofrer disso.]

Não tenho filhos. Mas é como se tivesse...

terça-feira, outubro 21

http://queimalingua.wordpress.com/

queimalingua tudo junto em minúsculas sem acento. Jeitão de cozinha, com banho-maria e panela de pressão. Arte de pin-ups [alguém aí se habilita no layout?]. Baba doce de cinco moças que se encontraram num café ali na Casa das Rosas, com friaca e cerveja premium, numa sexta a noite, 03 de outubro.

A proposta: blog coletivo. Apresentações, eleição de nome, definição da arte, proposta comercial. Nasceu queimalingua.

Meu outro blog coletivo não vingou. Agora, uma nova tentativa. Nova fase. Novas amigas. Débora Costa e Silva nos uniu por nossas experiências diversas. Mafalda, Verônica e Melissa. As quatro já queimalinguando, mas o wordpress e eu não nos entendíamos. Debbie resolveu: acabou de criar o login e a senha que eu não conseguia.

Fui lá visitar e todas estão fervendo. Menos eu, que ainda não estreei. Mas já já dou jeito nisso. E aviso aqui.

vem solzinho, vem

Sento de frente pra uma janela, maravilha. Adoro janela. Adoro altura. Adoro essa luz que faz a pupila se fechar toda de contentamento. E pensando no post anterior, concluí que preciso viajar. Que nem daquela vez com Flávio, Gabi e Alê, bate-volta na Juréia. E daquela outra vez no ano novo em Fortaleza, Ubatuba: nós quatro mais Carol, Lu Campos, Mai e Raul. E no Rio, show do Police com Carol, Alê, Lu Ferrarezi, Betina e Paludo. Nem precisa ser de avião, que esse ano já fiz isso. Só não posso mais estar sozinha, que agora gosto de compartilhar um dia assim de sol.

P.Prudente 531km

Agora instalei o Sem Parar. Chega de moedinhas no console. Chega da obrigação de ter trocado pra ajudar a moça do pedágio. Passo direto a até 40 km/h, disse o manual do usuário. Paro só na marginal, só na volta, só no escuro, só entre os caminhões, só com os faróis refletidos no meu retrovisor, que dóem nas pupilas. Antes, começo do dia: apenas um semáforo (já habituada a dizer: tô sem troco, simpatia). Sorrio pra ponte estaiada. Rock a 90km/h. Reduzo a 40km/h. Sonhados 120km/h. Janela aberta, vento no cabelo ajuda a estilizar o corte. Sol, óculos verdes. Vejo a placa: P. Prudente 531 km. Sincero desejo de seguir na estrada. Mas estou gostando do novo trabalho, então entro na saída 24.

segunda-feira, outubro 20

Ontem matei meu primo

Bituca de cigarro,
fumaça, cinzeiro lotado.
Perder o cabaço, todos.
Pelos prazeres
tolero tudo, rapaz
menos tolice.
A tua.

Eu te mandava:
me faz bonita.
Teus pincéis a desenhar
cócegas nos meus olhos.
Minha primeira língua
dentro da primeira boca.
A tua.

Confessas que sou
Senhora de tudo.
Até da saliva.
Até do cachorro.
Até da vadia.
Até do destino.
O teu.

Agora gritas
“não sou tua dona”?
Se pudesses, querido,
me terias toda.
Nesta lama,
neste piso.
O teu.

Fica em paz, amor,
que é como prometo
em boa hora:
todo ano,
juro que todo ano,
visito este chão.

[tão pra poesia ultimamente... assim como pra descartar gente besta]

segunda-feira, outubro 13

o corpo que sabe

Meu dedo indicador da mão esquerda aprontou uma. Há duas semanas, um espinho de cactus entrou nele. Tão fino que era (o espinho), fincou na pele entre a falange média e a distal, bem na junta onde dobra o dedo. Mordi, chupei, cutuquei e nada dele sair. Desisti e deixei o corpo se virar. O dedo, coitadinho, ficou dolorido e ficou matutando um jeito de expulsar aquele corpo estranho. E eu, impaciente, querendo ajudar, vez ou outra cutucava como se fosse uma espinha o espinho. Só doía mais, ainda não era hora.

Ontem, depois do banho quentinho, hidratante nas mãos: assim como o dedo do gurizinho do filme O Iluminado, meu dedo falou comigo "é agora, me ajuda". Eu só espremi, como fizera antes, mas dessa vez o espinho saiu, todinho, envolto por pus e essas melequinhas sensacionais que têm no corpo da gente. Saiu e parou de doer o dedo. Hoje tá inchadinho, mas mais um dia e pronto, passou, é como se nada tivesse acontecido. "Vamos adiante" disse o dedo para mim.

Boa lição para a semana: tudo que é estranho e desagrada, o corpo elimina.

segunda-feira, outubro 6

adoro achar

coisas que dava como perdidas:
meu batom da m.a.c. cor de boca,
junto com a auto-estima,
ali no fundo da bolsa.

deles, para eles

Cheguei sem que me visse.
Menos de uma hora depois, clamou.
Não por mim, mas a mim que teve
(a mulher que ele queria deixou-me ser):
"Tô te pegando - e é a primeira vez".
Ele aceitou. Agarrou no meu decote
e voltou a dormir.
Pedrão, da Dani e do Cris. O "primeiro sobrinho" me fez besta
com a grandiosidade de quem tem menos de seis quilos.
[e entender um mundo girar ao redor deles, a vida ser para eles].

impressões

Dar a volta no quarteirão por errar a entrada do edifício, o que significou 3km a mais no hodômetro, foi bobagem comparada ao fato. Aconteceu no primeiro subsolo. A heroína depara-se com uma loura baixinha, enperuada e cabeluda sacudindo o bundão para fora do carro, procurando um algo qualquer no banco do motorista. Expectativa e certo temor acometeram a heroína que - paralizada - não soube mais o que dizer ao manobrista e assim - paralizada - aguardou que a louca cabeluda, digo, a loura cabeluda se revelasse àquela caixa de concreto molhada da chuva. Num jogar de pescoço, daqueles de estalar o cóccix, a loura virou-se e o universo descobriu que não, não era ela. Ainda era muito cedo para que "a enlouquecida da alta sociedade carioca transvestida de Manolo Blahnik, Dior e Hermés" iniciasse suas atividades.

Fora o receio de encontrar a caricatura acima descrita [que já passou por onde estou mas, como boa fraude, logo foi-se], meu primeiro dia de trabalho foi bem legal. Há paredes coloridas e um cheiro bom. Ganhei um caderno bonito e um cronograma de ações mais colorido que as paredes. O pé direito é alto e há janelas, muitas. Estou gostando de tudo.

Ah, quase esqueci a volta pela "Infernal" Tietê.

sexta-feira, outubro 3

aqui estamos, como somos

[descaradamente copiado de "Mais do que os olhos captam". Por amor]

modestos rancores

Tenho a crueldade de banir alguém sem explicar ao banido o por quê.
Tenho o egoísmo de perceber os feitos bem-feitos e querê-los meus.
Um certo ódio de certos atos de certas pessoas contra as pessoas certas.
E vergonha das minhas indelicadezas. Principalmente quando amo.
Tenho raiva das coisas que vão melhores aos outros e pra mim, faltam.
Ciúme de quando bajulam demais o do outro. Tenho inveja.

Reviravoltando-se

Jorjão,
mais um
rabo-de-galo
pra agüentar
o guri chato
como diabo.

É sono,
coitado
caindo
pr`os lados
só o trago
pr’os meus tragos.

Bota
no carro
o piá
que é
pra parar
de piar.

Disque denúncia
do ladrão
Cidade alerta
cidadão
ocorrência procedente
de omissão.

quarta-feira, outubro 1

tum tum tum tum tum tum tum

e não é coração batendo mais forte, não. É a reforma que estão fazendo no apê em cima do meu. E eu só sei disso por que consegui uma semana de férias antes de começar na Alquimia, a nova agência. Sonhava enfim descansar, depois de dias acelerados até ontem. Mas não. O sonho do canto dos periquitinhos embalando a leitura do Saramago que devo finalizar logo passou longe de acontecer. Sobre minha cabeça, os pedreiros mandam bala no seu tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum aaaaaaaahhhh eu mereço isso, porra?