quarta-feira, janeiro 28

a trintona que pensa 2

Episódio de hoje: AS MAZELAS DA MOÇA INDEPENDENTE*
* mulher trintona semiresolvida, gata-delícia-gostosa, que rala o tchan e carrega um trauma social: não ter prole.

Situação 1
A moça independente está no pátio de uma padaria. O garçom se aproxima e pede para ela apagar o cigarro.
- Mas aqui do lado de fora pode fumar! - ela afirma, estranhando o pedido.
- Justamente. - o garçom diz.
- E então?
- É que tem um bebê aqui.
- E o bebê fuma?
- Não, senhora. A mãe quer ficar aqui para o bebê tomar sol enquanto ela lancha.
A moça apaga a bituca enquanto a mãe blasé fulmina: tão fumante e infeliz.

Situação 2
Em outra padaria. A moça independente lê a Revista da Folha. O carro estacionado em frente dispara a buzinar. Não era o alarme. Dentro do Audi, um bebê com menos de 2 anos. Na mesa ao lado, a mãe com uma amiga: - Olha que graça, ele descobriu a buzina! Aperta, filho, aperta!

Situação 3
O chefe vai mandar alguém ficar até mais tarde. Precisa entregar o projeto amanhã às nove da manhã. Seu raciocínio: a moça independente fica. Ela não tem nada pra fazer a noite mesmo. Vai até me agradecer.

Situação 4
A moça independente está na livraria, fissuradona na leitura. E bem longe da área infantil, pois já está quase traumatizada. Mas vem uma criança que quer sentar exatamente onde a moça está. A moça não levanta. A criança chora. A livraria inteira olha: o peso da condenação. A moça levanta com sua bunda baixa e o rabo entre as pernas. Em menos de dois minutos, a criança deixa a poltrona - cansou de ficar parada.

quinta-feira, janeiro 22

o cartório

- Número 8?
- Ôpa, até que enfim! Já tavam chamando o número 21!
- A senhora é a senhora Vanessa Guedes de Souza?
- Sou. Por quê?
- A foto da habilitação tá diferente.
- É... as pessoas mudam né...
- Sua assinatura está fora do padrão.
- Padrão? Como assim?
- Sua assinatura não confere com a que temos registrada.
- Mas a letra da gente muda com o humor.
- Como está seu humor?
- Tá uma bosta, mas viu...
- A senhora precisa preencher um novo cadastro.
(escriturário sai. heroína preenche cadastro e entrega)

10 minutos depois:
- Número 8?
- Oi, tô aqui.
- A senhora preencheu o seu cadastro errado.
- Preenchi? Ai Jesus, o quê?
- A senhora escreveu: "solteira".
- Sim. O que que tem?
- Tá errado.
- Tá errado?
- Sim. A senhora é de sete-oito.
- É. E daí?
- Tinha que escrever aqui: "separada".

terça-feira, janeiro 20

sem título

A oficina chiava tóim-tóim-creq-creq-vrrrr para arrumar o protetor de carter.
A Av Sto Amaro sempre bi-bi-fom-fom-quer-morrer-pedestre-filha-da-puta!-seu-motoboy-corno-do-caralho.
A cidade se arrasta. Sol fritando. Asfalto suado. Ar preso.
Eu assistia.
O celular na bolsa, ouriçado piii-piii-piii e tremendo brrr-brrrr-brrr:
"Tríade! Fui pedida em casamento!"
Primeiro, o choque. Depois, a inveja (branca).
Eu tô tão feliz por você. Tão feliz que hoje me vesti toda de branco. Tão feliz que não sei nomear este post. Pasma, orgulhosa de você, torcendo muito.
Felicidade de amiga é como se fosse minha.

quarta-feira, janeiro 14

felicidade: volta aqui já!

São menos de quatro horas até ganhar a estrada. Fluir no asfalto. Viver o incômodo do não chegar logo. Tráfego. Hoje eu prefiro este. Quero 19h no relógio, por favor. Estou esmagadinha demais para ficar. Ainda é quarta-feira. Sozinha, sem dupla, sem grupo, sem sorrir. Não é minha cara, não é meu jeito, não é minha emoçao. Pensei que poderia ser minha felicidade: não é também. E essa angustia, esse não-saber-o-que-faço-aqui, essa saudade de criar um tema, inventar uma história que encanta, até escrever um broadside. Daqui a pouco vai dar saudade de revisar regulamento. Eu preciso voltar a ser redatora. Eu tenho que.

terça-feira, janeiro 13

pequeno shake

Estréia | 1o semestre 2009

Num restaurante indiano na Augusta, conheci um cara que queria um monólogo shakespeariano mirim para o seu curta. Tô louca pra ver o resultado.

Guidara diz:
"Durante as filmagem do video clip da Banda Dance of Days, filmei junto um curta metragem, estrelando o pequeno ícaro cavaleira, com um roteiro duplo, de curta e de clipe, com o roteiro de Max Rasputin e Vanessa Guedes."

Vá lá: http://www.ricardoguidara.blogspot.com/
e desconsidere a ausência do "n" na arte: artista plástico tem licença poética.

calçudas

Simpatia da calcinha de ano novo: junte uma penca de mulheres numa tarde de sábado em dezembro, sirva petiscos, capriche na champa, chame Penelope Constance para comercializar lingeries modernetes e sorteie um "amiga sexcreta" com papelotes que constem nome, tamanho e desejo para o ano que vem.

Só deu calcinha amarela, da grana: foi-se o tempo em que o amor bastava.

quinta-feira, janeiro 8

a trintona que pensa

projeto novo no "prosa": reflexões, invejas e lamúrias da mulher maravilha que todas somos, com celulite, esmalte lascado, gordura no flanco e cabelo frizz.

Primeira reflexão do ano:
Não tá fácil me encarar de frente.
Mas de costas, tô comível.

Primeira inveja do ano:

Primeira lamúria do ano:
- Gosto de rabanada.
- Rabada?
- Só se é no seu.

terça-feira, janeiro 6

Thais

A grande amiga "doutoura" é uma das gratas surpresas da vida. Primeiro, por ser médica e se enfiar num curso de criação literária. Segundo, por ser tão dócil e escrever com precisão cirurgica as verdades humanas, doídas que são. E pra arrematar meu coração, faz com que seus residentes em pediatria no Hospital das Clínicas daqui de Sampa (essa sucursal da dor e da esperança) sigam o ritual de: a) olhar não só nos olhos das mães e de seus filhos que buscam socorro, mas nas almas e b) perguntar os nomes antes de qualquer coisa. Deixam de ser o paciente do protocolo 375-C, ou qualquer outra identificação fria para agilizar o processo. Os humanos que passam por suas mãos são tratados como são: humanos. E só de pensar que esta bondade toda está voltando para Londrina eu me encho de água nos olhos, "d'uma saudade bonita de ter", como acabo de lhe escrever. É com seu último poema, criado a convite do Fefet para se despedir de 2008, que mostro Thais para você.

Despeço
Despeço-me do tempo como se ele existisse
como se me cumprimentasse com saudações diárias melancólicas
daquelas que parecem sempre um prenúncio de morte
e ela não veio

Vivi
(eu acho)

Desviei rotas predeterminadas para ter medo de novo
Sofri com vontade as lágrimas inventadas
Chamei de irreais dores sem corpo
E percebi minha pele
Essa cortina fenestrada entre a ficção e a verdade que sou

Despeço pessoas que viveram em mim em diferentes dias
Chamei todas de estranhas
Não sei qual me habita mais agora

Tudo o que um ano pode ser
em doze caixas semiabertas
Despacho sem urgência
Quero a última contemplação
Lembrarei do que não aconteceu com saudade
Uma nostalgia mais dos sonhos do que do concreto
Construções de fachadas limpas
do branco que dá vontade de sujar
por as mãos de barro no muro
sentir as asperezas necessárias

Que venha a nova ilusão.


[doutoura, vô sê sua muito. sempre.]