quarta-feira, setembro 30

tem gente que reclama tanto, mas tanto.
que eu morro de vergonha de um dia ser como elas.

tem gente que acha bonito, tão bonito ser blasé,
que blasé de cu pra mim é rola.

terça-feira, setembro 29

...paixão solitária.
O livro amarelo...
... prosas da pasta rosa.
O santo sujo...

Senti troço estranho fragmentando estes títulos.
É: abrir um novo caderninho. Um novo título. Um parágrafo bastaria.

[Prêmio Jabuti _ http://www.cbl.org.br/jabuti]
Num domingo que baforava lágrimas, voltou a felicidade.

quinta-feira, setembro 17

Está lá, num muro: "A verdade é que você mente todo dia."
Voto por esta interpretação.

quarta-feira, setembro 16

É o que temos.

Não teve maquiagem, nem ofurô, nem grinalda. Não teve Rolls Royce, nem daminha, nem aliança. Nada de madrinha, de enfeite em cima do bolo. Nem padre, nem convidados. Não teve vestido nem véu nem vento. Mas saiu o sol.

Uma saia branca desenhada pelas bordadeiras de Porto de Galinhas fez par com botas gaúchas até os joelhos. A carruagem preta, suja e ralada. O trânsito na Marginal Pinheiros. Teve a paz dele, o marejar dela.

- Vocês são solteiros?
- Ela sim, eu não.
- Trouxe os documentos?
- Ela sim, eu não.

Ela gargalhou. De nervoso. Quase que ele se safa, como é que pode esquecer? Só que não tinha mais jeito, não quis nem saber: de hoje não passa. Hoje é a data especial, três anos, bodas de couro e o escambal.

- Espera, acho que os documentos estão lá na agência.
- Tem certeza?
- É uma esperança.
- É uma espera, anta.

A bota fervendo as pernas. A roupinha branca chamativa naquele núcleo corporativo. Ficou no banquinho do jardim do prédio. “Esperanta”. Quinze minutos, ele volta: mãos vazias. Ela puta da vida. Ele se sentindo um bosta. Trotam para o estacionamento.

- Tem dinheiro?
- Tem a última folha do cheque.
- Serve.
- Moça, aceita Redeshop?

Voltaram para Pompeia. Faltava um vulcão nesta história, que não poderia ser ela,motorista que espera na ladeira contra o sol. O caminhão de lixo faz manobra, ela dança junto: de cá pra lá pra não atrapalhar. Ele aparece com os documentos. Foi o que ele disse. Ela põe na FM, rock nacional.

“...Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...”

“...Vejo os outros, todos estão tentando. É tão certo, quanto calor do fogo. Eu já não tenho escolha e participo do seu jogo, eu participo...”

“... Solte um pouco o freio, deixe de receio, encare mais os fatos: sirva ainda frio seu coração...”

Soltou a voz Marginal adentro. Estacionou. Acendeu um cigarro antes de entrar, pediu para ele acompanhar. Calma. Entre uma baforada e outra, ele soprou um “eu quero te dizer tô muito feliz”, talvez não com essas palavras.

Estão estáveis. Assinaram a certidão.

segunda-feira, setembro 14

desculpa, não deu

Vai embora depois das dez: ainda tá faltando coisa pra entregar.
Trabalhou no sábado: deu mancada com a amiga de longe que marcou um japa.
Saiu com as amiga a noite: deixou o gato bicudo em casa.
Viu o fim da novela com as amigas: largou o enteado dormindo no sofá.
Saiu antes do rodízio: há um caminhão quebrado pronto pra te avacalhar.
Acelerou pra chegar logo: ralou a lateral no muro da garagem.
Foi no jogo do basquete: perdeu o último dia da exposição.
Conseguiu ir no cinema: não vai terminar de ler o Saramago nunca.
Tomou um porre dos bons: seu fígado não perdoa mais.

Parece que a gente sempre tá devendo.

quinta-feira, setembro 10

um pó de inspiração, por misericórdia

Vanz,
você que é redatora, planejamento, roteirista, diretora técnica, pilota de rally, assessora de imprensa, atendimento e linda, será que pode...


Era um email de trabalho. O assunto? Não interessa o assunto, porra. Interessa o seguinte: por que eu não consigo com a rotina?

É que depois de mulher-melancia, da mulher-samambaia, da mulher-o-diabo-de-quatro, surge a mulher-muda. Sou eu. A mulher que em menos de um ano muda de emprego, muda de cargo, muda de nariz, muda de barriga, muda de cabelo, muda de casa, muda de estado civil, muda de cabelo de novo, muda de cargo de novo. Muda de pele. Muda de história.

História?
A vida está tão sem graça pra contar histórias.
Era uma vez um tempo onde as mais medonhas desgraças recebiam um sinsalabim e viravam textos divertidos. Estou pra postar um conto que foi a maior humilhação amorosa já vivida. Coisa trash mesmo. E sem tempo de procurá-lo no baú. Sem tempo de voar para o próximo varal.

Conheço o bloqueio. Chama-se "puta cagaço": de virar bicho preguiçoso, humano burro, leva-e-trás do mundo dos negócios. Fico agarrada no que me resta de criativo, até sangra os dedos. Até secar os olhos. Até tampar a garganta. É medo dele sumir de mim.

Glória, que continuo dramática!

quarta-feira, setembro 2

extravasa!

Em Porto de Galinhas, o mundo virou branco.

tietagem sim.

Paula Lima é pessoa melodiosa que deixa a gente besta de encanto.

E o Daniel é o cara mais gente fina do mundo: eu queria ser amiga dele.

ziquizira no céu

O horóscopo aconselhou a amiga libriana: ôh mulher, para de falar da vida privada que dá zica. Disse para tomar cuidado com letras miudinhas de contratos e mandou esperar até o mês que vem para assinar qualquer coisa. Ordenou que guarde dinheiro e que não mexa em investimentos para realizar algo que ainda duvida que seja. Contou também que qualquer atividade iniciada este mês terá começo turbulento. Pediu para ficar atenta com o sistema digestivo e adiantou que vai ter que ceder para agradar o ser amado. Avisou para não contar com os colegas do trabalho e pediu para ser intuitiva e institiva. Disse que vai trabalhar muito e que uma decisão tomada lá pelo dia 15 vai mudar a sua vida. E que só dia 28 os planetas entram no eixo.

E hoje só é dia 02.

sabotagem corporativa

[ou: batalha pelo direito de viver uma segunda-feira além da rotina]

Quatro meses de trabalho prévio. Nove dias de trabalho contínuo. Dezesseis horas de trabalho/dia. Trezentas pessoas na equipe. Mil pessoas convidadadas. E uma intoxicação alimentar. Assim se consagrou o evento de lançamento da Nova Saveiro, em Porto de Galinhas, Pernambuco. Sucesso total, cliente feliz, agência satisfeita. Dei-me o direito de retornar a São Paulo [essa terra linda onde tudo funciona 24 horas] e frear. Tirar um dia de folga. Ir no podólogo. Almoçar em casa. Sair com o Gabi. Assistir à "Força G" em 3D. Experimentar Yogoberry. Comprar pulseira. Depois jantar num japa com o Flávio junto, para comemorar a minha volta e testar meu estômago.

Terça-feira descubro que só eu me dei ao luxo. Ao retornar, já com a nova função atendimento num clic, me deu um sono tão grande. E uma certeza: odeio me sentir culpada quando vivo.