domingo, agosto 19

espelho


Temendo que eu me perdesse em locais de multidão, como na rua Direita, no Centro de Sampa, ela disse: se você se perder, fica parada num canto que eu volto pra te buscar. Um dia aconteceu. Ela voltou e me buscou.
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Percebendo minha tietagem infantil, ela convenceu um segurança a me deixar subir no palco do show que o Juninho Bill estava fazendo no Parque da Água Branca. Teve que suportar cantada do brutamontes mas me pôs do ladinho do ídolo-mirim.
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Era verão, a piazada brincava aos berros até que, de repente, silêncio. Ela, que estava na cozinha, estranhou e foi ver o que havia. Encontrou a concunhada me chacoalhando com ira por conta da barulheira. Não pestanejou: voou pra cima da tia-bruxa e desceu a lenha nela.
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Inverno daqueles brabos. Eu, mocinha vaidosa, queria por que queria usar saia sem meia de lã. Ela disse que eu passaria frio. Eu teimei, disse que não não não. Sábia, ela deixou eu sair do jeito que eu queria. Cinco minutos depois pedi para voltar pra casa. Queria colocar uma calça.
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1981. Casada, com uma filha pequenucha e fã do Fred Mercury. Surgiu a grande chance e ela não quis nem saber: se vira marido que a filha também é tua! Lá foi ela para o Estádio do Morumbi em São Paulo assistir ao show do Queen com as amigas, aquelas mesmas que também se jogaram no show do Alice Cooper.
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Hoje é aniversário dela. Minha mãe, meu espelho. Ela fez o que pôde, o que não pôde, o que sonhou. É. Ela me ensinou preciosidades.
Por isso e por tanto mais, leoa, eu sou sua. Sempre.

2 comentários:

Guinéka disse...

A-D-O-R-E-I. Parabéns dna Gercina. As mães de agosto são mulheres guerreiras!!! Beijão

Julia disse...

poxa Van, porque vc é tão genial?
Bjks e parabéns para a mamãe.