Um homem está entre a coragem e o ridículo. É um homem que se eleva quinze andares e demonstra seu amor ou desespero ou rancor disfarçado. Um homem que declara viagem de segunda lua-de-mel ao paraíso dos apaixonados, cidade-luz. Levantam as placas de aplausos. Um homem que sabe falar, que sopra palavras de agradecimento a nós, mortais, que pouco vivemos esta história, que finaliza o discurso com presentes aos chefes da mulher amada e flores, enormes, ao seu objeto de desejo. Este, senhores, é um homem que declara-se cantando o hit pop da musa de Titanic - choque, choque geral.
Entre lágrimas da ala feminina e queixos caídos de quem foi obrigado a passar por este momento singular na vida, nasceram as opiniões. Um disse: é apelação. Outro: aprendi muito hoje. Outro: só pode ser a melhor chave-de-buceta do planeta.
No fim o homem afundou. Uma semana depois. Publicamente, como gosta.
Ciúme é uma merda.
terça-feira, dezembro 22
domingo, dezembro 13
sábado, dezembro 12
controle, ausência de
A confusão em seus olhos que diz tudo, ela perdeu o controle
E ela está se agarrando ao que passa mais próximo, ela perdeu o controle
E revelou os segredos de seu passado e disse "Perdi o controle de novo" (...)
Ela mostrou todos os erros e enganos e disse "Perdi o controle de novo"
Mas ela se expressou de muitas maneiras diferentes até que ela perdeu o controle de novo
E caminhou sobre o fio da navalha do desengano e riu (...)
Ela perdeu o controle de novo
Ela perdeu o controle
Eu poderia viver um pouco melhor com os os mitos e as mentiras
Quando a escuridão rompeu, eu simplesmente desmoronei e chorei
Eu poderia viver um pouco em uma linha maior
Quando a mudança se foi,quando o impulso se foi
Para perder o controle quando aqui chegamos
joy division, she's lost control
E ela está se agarrando ao que passa mais próximo, ela perdeu o controle
E revelou os segredos de seu passado e disse "Perdi o controle de novo" (...)
Ela mostrou todos os erros e enganos e disse "Perdi o controle de novo"
Mas ela se expressou de muitas maneiras diferentes até que ela perdeu o controle de novo
E caminhou sobre o fio da navalha do desengano e riu (...)
Ela perdeu o controle de novo
Ela perdeu o controle
Eu poderia viver um pouco melhor com os os mitos e as mentiras
Quando a escuridão rompeu, eu simplesmente desmoronei e chorei
Eu poderia viver um pouco em uma linha maior
Quando a mudança se foi,quando o impulso se foi
Para perder o controle quando aqui chegamos
joy division, she's lost control
quarta-feira, dezembro 2
um momento
Não resisti em te escrever este momento. Estou na sala, tem um colchão no chão para a Maria Flor brincar e ela está com a centopéia que você deu, conversa, faz nanar, cai pra um lado, cai para o outro, cai em cima da centopéia, tá dando gosto de ver. Queria fotografar porque está bonito, mas as crianças são muito ativas, enquanto eu buscava a câmera a brincadeira mudou e a pobre centopéia no chão ficou.
Quando sobrar meia hora, aparece aqui.
Um beijo no seu coração,
tati
Quando sobrar meia hora, aparece aqui.
Um beijo no seu coração,
tati
quinta-feira, novembro 12
terça-feira, novembro 10
o embrutamento
Além do desafio de compreender o complexo sistema financeiro que agride diariamente minha frágil formação em humanas, sinto que não é muito o que estou aprendendo na nova função. O ciceronear de lá para cá faz de mim marionete: eu sorrio, às vezes sei responder. Essa coisa de ser interface, de ser o elo, a ponte, essa coisa de agradar para atender e ser atendida. Essa coisa bonitinha que eu sei fazer. Quando me acham fofa, logo emendo um "fofa e burra". E fica engraçado. Pela fofurice e pela burrice.
Agora salto alto virou uniforme, decotes discretos sufocam as tetas loucas pelo verão. E colares. Dei pra usar colares agora. À maquiagem um brinde: cada vez mais corretivo para disfarçar a veia roxa impressa na cansada bolsa abaixo do olho esquerdo. Rímel, rímel, rímel de segunda a domingo. Tenho medo que meus cílios caiam.
Não fui mais ao cinema. Menos ainda ao teatro. Mal consigo ler algumas páginas do Lobo Antunes. A Veja virou leitura de banheiro, nas horas em que é preciso parar (combina a Veja estar lá). Dirijo-me às ruas com moleza. Dirijo com moleza. A noite, mais pedrinhas estalando o para-brisa. Quanto sono na exposição do Matisse. Não há cochilo. Durmo pouco, o ambiente desfavorável desde Buenos Aires (que estranho digitar Buenos Aires e a mente formar a imagem da Pça. Buenos Aires, em Higienópolis).
Mais tempo conectada. Mais tempo de estrada. Mais tempo com orelha vermelha, grudada. Hoje ganhei um celular corporativo. Vou continuar fazendo careta. Não há de que. Foi assim que eu quis. Criação. Planejamento. Atendimento. A motivação é outra. Um dia, a gente vai rir.
Agora salto alto virou uniforme, decotes discretos sufocam as tetas loucas pelo verão. E colares. Dei pra usar colares agora. À maquiagem um brinde: cada vez mais corretivo para disfarçar a veia roxa impressa na cansada bolsa abaixo do olho esquerdo. Rímel, rímel, rímel de segunda a domingo. Tenho medo que meus cílios caiam.
Não fui mais ao cinema. Menos ainda ao teatro. Mal consigo ler algumas páginas do Lobo Antunes. A Veja virou leitura de banheiro, nas horas em que é preciso parar (combina a Veja estar lá). Dirijo-me às ruas com moleza. Dirijo com moleza. A noite, mais pedrinhas estalando o para-brisa. Quanto sono na exposição do Matisse. Não há cochilo. Durmo pouco, o ambiente desfavorável desde Buenos Aires (que estranho digitar Buenos Aires e a mente formar a imagem da Pça. Buenos Aires, em Higienópolis).
Mais tempo conectada. Mais tempo de estrada. Mais tempo com orelha vermelha, grudada. Hoje ganhei um celular corporativo. Vou continuar fazendo careta. Não há de que. Foi assim que eu quis. Criação. Planejamento. Atendimento. A motivação é outra. Um dia, a gente vai rir.
terça-feira, outubro 27
Quer saber? Eu conto. Mas você pode não gostar. Preferia que não. Mas já que você quer. Ela perguntou como é que a gente sabe que já pode casar. Eu respondi que você pode casar quando você faz cocô no banheiro dele e não fica com vergonha. Ela não acreditou e me bateu na cara. Foi só isso. Não doeu por que eu vi e desviei. Eu desviei um monte de coisas. Os papelotes amarelos do seu MasterCard. Para ver por onde você se enfia. Não achei nada demais. Achei sua vida bem monótona. Aí ela leu numa rede social que eu estava solteira e perguntou se eu estava separada. Lembrei do cocô na privada ou na boca dela. Puta merda. Aquele guri do vizinho continua chorando toda noite. Deve ser cólica. É manha. Uma chatice. Lembra que te disse que um amigo perguntava como eu me sentia? Na janela da cozinha, casinhas. O financiamento saiu. Fui em festa de criança, pensei em família. Eu já posso comer chocolate. Maça ainda não. Tô uma bola de gorda. Já te disse do amigo que perguntou como eu me sentia? Sua blusa eu não peguei, você perdeu. Seus óculos também. Não fui eu. Se acha isso, problema seu. Então problema dela. Ela ama os animais. Só podia estar com um. Gosto mais da outra. Quanto custa. Preguiça de tanta negociação. De tanta visita. Sabe o que eu respondi para o meu amigo?
quinta-feira, outubro 22
quarta-feira, outubro 21
a ida
Estava tenso. Não. Eu que estava tensa. Não me agradava a ideia de uma amiga deixar de ir (pedi tanto para ela ser egoísta pela primeira vez na vida). Não me agradava as malas ainda por fazer, os briefings ainda por fazer, a lição de casa ainda por fazer. E o almoço foi tão pouco - eu mandei não comprar nada até o dia da viagem e, no dia da viagem, não tinha nada para comer.
Nessas horas, a hora é impiedosa. O motorista chegou antes, o Flávio chegou depois, a Alê ainda no Rio. Nessas horas, umas cervejas na varanda com quem veio se despedir: as abas do nariz tremelicando de nervoso, um algo de esperança de que ela fosse conosco. Nessas horas, a Marginal Tietê faz pirraça. Eu tenho certeza que chegaremos atrasados. Fomos os primeiros da fila.
O Gabriel: pura curiosidade. Perguntava tudo, se metia entre nós, tropeçava, derrubava Guaraná na moça do bar. A vida pulsante naqueles olhos, o corpo sem saber expressar a emoção. Felicidade deve ser isso. Dançamos um tango no check in. Flávio segurava minha bolsa. Alê estava perdida, nos procurando.
Embarcamos. Eu ainda tensa. Colocaram-nos em cadeiras distantes. Eu bicuda até ouvir um "senhora, por favor, minha esposa ficou separada de nós e...", logo estava com eles. Mas ainda tensa. Decolamos. Dor de ouvido, turbulência, choro, sono. Crianças são assim. Eu mais tensa.
Ele não entendia o por quê, eu não sabia o que falar. Mas perto do pouso, brotou: você não me agradeceu por eu ter feito as malas. E embalados por este drama portenho, uma milonga avisou que pisamos em Buenos Aires.
Quando deu meia-noite, dentro do taxi da cidade hermana, Gabriel fez 12 anos.
Nessas horas, a hora é impiedosa. O motorista chegou antes, o Flávio chegou depois, a Alê ainda no Rio. Nessas horas, umas cervejas na varanda com quem veio se despedir: as abas do nariz tremelicando de nervoso, um algo de esperança de que ela fosse conosco. Nessas horas, a Marginal Tietê faz pirraça. Eu tenho certeza que chegaremos atrasados. Fomos os primeiros da fila.
O Gabriel: pura curiosidade. Perguntava tudo, se metia entre nós, tropeçava, derrubava Guaraná na moça do bar. A vida pulsante naqueles olhos, o corpo sem saber expressar a emoção. Felicidade deve ser isso. Dançamos um tango no check in. Flávio segurava minha bolsa. Alê estava perdida, nos procurando.
Embarcamos. Eu ainda tensa. Colocaram-nos em cadeiras distantes. Eu bicuda até ouvir um "senhora, por favor, minha esposa ficou separada de nós e...", logo estava com eles. Mas ainda tensa. Decolamos. Dor de ouvido, turbulência, choro, sono. Crianças são assim. Eu mais tensa.
Ele não entendia o por quê, eu não sabia o que falar. Mas perto do pouso, brotou: você não me agradeceu por eu ter feito as malas. E embalados por este drama portenho, uma milonga avisou que pisamos em Buenos Aires.
Quando deu meia-noite, dentro do taxi da cidade hermana, Gabriel fez 12 anos.
terça-feira, outubro 20
Clarín, 18.10.2009
Depeche Mode: un regreso en forma
07:37 Quince años después de su última visita, la banda inglesa cerró el Personal Fest y deleitó a 40 mil fans.
Desde el comienzo del recital, Depeche Mode pone en juego la que podría considerarse una de sus principales virtudes. En la intro de In Chains, el tema inaugural de Sounds of the Universe que a su vez funciona como apertura de la noche, Martin Gore le arranca a las cuerdas de su guitarra un sonido que parece obtenido con un sintetizador. Y enseguida sobreviene un ataque de sintetizadores comandado por Andy Fletcher, que perforan la canción como riffs de teclado. Después de todo, el actual trío británico consiguió algo que allá lejos y hace tiempo quizás nadie imaginaba: que el tecno-pop ascendiera a la categoría de rock de estadios.
También de movida queda esbozada una duda que tiene por protagonista al cantante Dave Gahan (recuperado de una operación que obligó a suspender varias fechas), que se mantiene con el correr de los minutos. La profundidad y la intensidad acostumbradas de su voz, ese registro único que hace las veces de motor a propulsión para que la música de la banda levante vuelo hasta alturas impensadas, no alcanzan los niveles conocidos en la interpretación del mencionado y de Wrong. ¿Es un problema del micrófono? ¿Está resfriado? ¿Las musas de la inspiración no lo visitaron durante su estadía porteña?
Con un despliegue visual impecable, por momentos minimalista pero siempre efectivo, la pantalla ubicada a sus espaldas refuerza con imágenes la búsqueda de un lenguaje universal según su último disco. Para este Tour of the Universe, la formación se completa con el baterista Christian Eigner y un segundo tecladista (Peter Gordeno), al que eventualmente se suma Gore para formar una línea de tres cuando deja su colección de guitarras.
El entramado instrumental habilita un recorrido por la enriquecida sucesión de climas, texturas, ambientes y paisajes sonoros que proponen clásicos como Walking In My Shoes, A Question Of Time y Fly On The Windscreen. Todos, obvio, muy festejados por los fans más tempranos, que seguramente los vieron en su anterior visita al país: estadio de Vélez, 1994.
A la hora de Jezebel, Gore se calza el traje (chaleco y pantalón plateados y brillantes, en su caso) de frontman. Y aunque el tono del cerebro musical es más intimista que arengador, está claro que no le sienta nada mal: su particular y agudo vibrato realza el potencial evocador de la melodía y la letra de Home y provoca, despojado de las máquinas y la parafernalia sonora, uno de los momentos más cálidos. Cuando termina, un coro multitudinario convierte a la melodía en una especie de coda de fogón.
La recta final los encuentra jugando con el velocímetro de dos de sus temas más emblemáticos, ambos del seminal Violator. En ese plan, Policy of Truth pierde su agresividad existencialista y se aproxima a las pulsaciones de una balada mid-tempo. Como contrapartida, Enjoy The Silence cambia su atmósfera contemplativa por un aliento eminentemente bolichero, que los pasea entre un club electrónico y una disco funky imaginarios. Para lo bises quedan otros platos fuertes, como Behind The Wheel y Personal Jesus. Y, al cabo de unas dos horas de show, aunque nadie se puede sentir decepcionado, queda flotando la sensación de haber asistido a un concierto sin demasiados relieves o momentos de éxtasis colectivo.
07:37 Quince años después de su última visita, la banda inglesa cerró el Personal Fest y deleitó a 40 mil fans.
Desde el comienzo del recital, Depeche Mode pone en juego la que podría considerarse una de sus principales virtudes. En la intro de In Chains, el tema inaugural de Sounds of the Universe que a su vez funciona como apertura de la noche, Martin Gore le arranca a las cuerdas de su guitarra un sonido que parece obtenido con un sintetizador. Y enseguida sobreviene un ataque de sintetizadores comandado por Andy Fletcher, que perforan la canción como riffs de teclado. Después de todo, el actual trío británico consiguió algo que allá lejos y hace tiempo quizás nadie imaginaba: que el tecno-pop ascendiera a la categoría de rock de estadios.
También de movida queda esbozada una duda que tiene por protagonista al cantante Dave Gahan (recuperado de una operación que obligó a suspender varias fechas), que se mantiene con el correr de los minutos. La profundidad y la intensidad acostumbradas de su voz, ese registro único que hace las veces de motor a propulsión para que la música de la banda levante vuelo hasta alturas impensadas, no alcanzan los niveles conocidos en la interpretación del mencionado y de Wrong. ¿Es un problema del micrófono? ¿Está resfriado? ¿Las musas de la inspiración no lo visitaron durante su estadía porteña?
Con un despliegue visual impecable, por momentos minimalista pero siempre efectivo, la pantalla ubicada a sus espaldas refuerza con imágenes la búsqueda de un lenguaje universal según su último disco. Para este Tour of the Universe, la formación se completa con el baterista Christian Eigner y un segundo tecladista (Peter Gordeno), al que eventualmente se suma Gore para formar una línea de tres cuando deja su colección de guitarras.
El entramado instrumental habilita un recorrido por la enriquecida sucesión de climas, texturas, ambientes y paisajes sonoros que proponen clásicos como Walking In My Shoes, A Question Of Time y Fly On The Windscreen. Todos, obvio, muy festejados por los fans más tempranos, que seguramente los vieron en su anterior visita al país: estadio de Vélez, 1994.
A la hora de Jezebel, Gore se calza el traje (chaleco y pantalón plateados y brillantes, en su caso) de frontman. Y aunque el tono del cerebro musical es más intimista que arengador, está claro que no le sienta nada mal: su particular y agudo vibrato realza el potencial evocador de la melodía y la letra de Home y provoca, despojado de las máquinas y la parafernalia sonora, uno de los momentos más cálidos. Cuando termina, un coro multitudinario convierte a la melodía en una especie de coda de fogón.
La recta final los encuentra jugando con el velocímetro de dos de sus temas más emblemáticos, ambos del seminal Violator. En ese plan, Policy of Truth pierde su agresividad existencialista y se aproxima a las pulsaciones de una balada mid-tempo. Como contrapartida, Enjoy The Silence cambia su atmósfera contemplativa por un aliento eminentemente bolichero, que los pasea entre un club electrónico y una disco funky imaginarios. Para lo bises quedan otros platos fuertes, como Behind The Wheel y Personal Jesus. Y, al cabo de unas dos horas de show, aunque nadie se puede sentir decepcionado, queda flotando la sensación de haber asistido a un concierto sin demasiados relieves o momentos de éxtasis colectivo.
segunda-feira, outubro 12
papagaia Brenda
Entre as 107 mulheres convidadas por Sophie Calle para intregrar o projeto "Cuide de você", papagaia Brenda foi a que mais me surpreendeu. Em seu vídeo, Brenda recebe uma miniatura da famosa carta que gerou todo o burburinho, amassa-a com descaso até que se torne uma densa bola de papel, então rasga tudo com a fúria incontida de seu bico. Não satisfeita, respira fundo, infla-se inteira ganhando um penacho aterrorizante e penas saltadas, e grita: "ah-ah-aahh! cuide de você! cuide de você!"
Para mim, Brenda é uma mulher transvestida de calopsita.
A outra vida
Catherine Millet é outra francesa que conheci na FLIP. Hoje acabei de ler o seu "A outra vida de Catherine M.", autobiografia que mostra a mulher madura enlouquecendo quando descobre que o marido tem "amigas mais novas". Primeiro, achei curioso o fato de serem chamadas de amigas quando, na real, são amantes. Segundo e mais curioso, Catherine ficou conhecida como ícone da liberdade sexual depois do seu "A vida sexual de Catherine M.". Então ficou a dúvida: como pode uma mulher tão liberta ficar em frangalhos ao descobrir a vida paralela do seu homem, se ela mesma vivia em um paralelo alardeado?
Não consegui resposta que me convencesse.
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A cada novo livro eu absorvo o protagonista. Nesses dias de "A outra vida...", F. sofreu com bisbilhotices e indiretas a fim de descobrir as tais amigas que eu tinha intuição da existência. Mais do que uma declaração aberta de "desculpa aí, meu, foi mal", este post é para contar que pude viver nesse mês o drama da desconfiança. Essa mulher se acabou de um jeito que eu nunca achei que alguém poderia. Desde se bater no corredor, de uma parede a outra, por que a dor física a confortava, até ficar paralisada na cama sem um gemido de socorro.
Tudo por ciúme, inveja, frustração.
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Ouço histórias de mulheres que largam a vida por seus pares. E de outras que querem um par a qualquer custo. E de outras que se vendem e são felizes. De outras que pagam. De outras que vivem no paralelo. Sou confidente de muitas mulheres e nenhuma delas se nega a mudança drástica em suas vidas a favor de um par, de um amor. Eu sou uma dessas tantas.
O que tem Catherine e todas nós em comum?
quarta-feira, setembro 30
terça-feira, setembro 29
quarta-feira, setembro 16
É o que temos.
Não teve maquiagem, nem ofurô, nem grinalda. Não teve Rolls Royce, nem daminha, nem aliança. Nada de madrinha, de enfeite em cima do bolo. Nem padre, nem convidados. Não teve vestido nem véu nem vento. Mas saiu o sol.
Uma saia branca desenhada pelas bordadeiras de Porto de Galinhas fez par com botas gaúchas até os joelhos. A carruagem preta, suja e ralada. O trânsito na Marginal Pinheiros. Teve a paz dele, o marejar dela.
- Vocês são solteiros?
- Ela sim, eu não.
- Trouxe os documentos?
- Ela sim, eu não.
Ela gargalhou. De nervoso. Quase que ele se safa, como é que pode esquecer? Só que não tinha mais jeito, não quis nem saber: de hoje não passa. Hoje é a data especial, três anos, bodas de couro e o escambal.
- Espera, acho que os documentos estão lá na agência.
- Tem certeza?
- É uma esperança.
- É uma espera, anta.
A bota fervendo as pernas. A roupinha branca chamativa naquele núcleo corporativo. Ficou no banquinho do jardim do prédio. “Esperanta”. Quinze minutos, ele volta: mãos vazias. Ela puta da vida. Ele se sentindo um bosta. Trotam para o estacionamento.
- Tem dinheiro?
- Tem a última folha do cheque.
- Serve.
- Moça, aceita Redeshop?
Voltaram para Pompeia. Faltava um vulcão nesta história, que não poderia ser ela,motorista que espera na ladeira contra o sol. O caminhão de lixo faz manobra, ela dança junto: de cá pra lá pra não atrapalhar. Ele aparece com os documentos. Foi o que ele disse. Ela põe na FM, rock nacional.
“...Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...”
“...Vejo os outros, todos estão tentando. É tão certo, quanto calor do fogo. Eu já não tenho escolha e participo do seu jogo, eu participo...”
“... Solte um pouco o freio, deixe de receio, encare mais os fatos: sirva ainda frio seu coração...”
Soltou a voz Marginal adentro. Estacionou. Acendeu um cigarro antes de entrar, pediu para ele acompanhar. Calma. Entre uma baforada e outra, ele soprou um “eu quero te dizer tô muito feliz”, talvez não com essas palavras.
Estão estáveis. Assinaram a certidão.
Uma saia branca desenhada pelas bordadeiras de Porto de Galinhas fez par com botas gaúchas até os joelhos. A carruagem preta, suja e ralada. O trânsito na Marginal Pinheiros. Teve a paz dele, o marejar dela.
- Vocês são solteiros?
- Ela sim, eu não.
- Trouxe os documentos?
- Ela sim, eu não.
Ela gargalhou. De nervoso. Quase que ele se safa, como é que pode esquecer? Só que não tinha mais jeito, não quis nem saber: de hoje não passa. Hoje é a data especial, três anos, bodas de couro e o escambal.
- Espera, acho que os documentos estão lá na agência.
- Tem certeza?
- É uma esperança.
- É uma espera, anta.
A bota fervendo as pernas. A roupinha branca chamativa naquele núcleo corporativo. Ficou no banquinho do jardim do prédio. “Esperanta”. Quinze minutos, ele volta: mãos vazias. Ela puta da vida. Ele se sentindo um bosta. Trotam para o estacionamento.
- Tem dinheiro?
- Tem a última folha do cheque.
- Serve.
- Moça, aceita Redeshop?
Voltaram para Pompeia. Faltava um vulcão nesta história, que não poderia ser ela,motorista que espera na ladeira contra o sol. O caminhão de lixo faz manobra, ela dança junto: de cá pra lá pra não atrapalhar. Ele aparece com os documentos. Foi o que ele disse. Ela põe na FM, rock nacional.
“...Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...”
“...Vejo os outros, todos estão tentando. É tão certo, quanto calor do fogo. Eu já não tenho escolha e participo do seu jogo, eu participo...”
“... Solte um pouco o freio, deixe de receio, encare mais os fatos: sirva ainda frio seu coração...”
Soltou a voz Marginal adentro. Estacionou. Acendeu um cigarro antes de entrar, pediu para ele acompanhar. Calma. Entre uma baforada e outra, ele soprou um “eu quero te dizer tô muito feliz”, talvez não com essas palavras.
Estão estáveis. Assinaram a certidão.
segunda-feira, setembro 14
desculpa, não deu
Vai embora depois das dez: ainda tá faltando coisa pra entregar.
Trabalhou no sábado: deu mancada com a amiga de longe que marcou um japa.
Saiu com as amiga a noite: deixou o gato bicudo em casa.
Viu o fim da novela com as amigas: largou o enteado dormindo no sofá.
Saiu antes do rodízio: há um caminhão quebrado pronto pra te avacalhar.
Acelerou pra chegar logo: ralou a lateral no muro da garagem.
Foi no jogo do basquete: perdeu o último dia da exposição.
Conseguiu ir no cinema: não vai terminar de ler o Saramago nunca.
Tomou um porre dos bons: seu fígado não perdoa mais.
Parece que a gente sempre tá devendo.
Trabalhou no sábado: deu mancada com a amiga de longe que marcou um japa.
Saiu com as amiga a noite: deixou o gato bicudo em casa.
Viu o fim da novela com as amigas: largou o enteado dormindo no sofá.
Saiu antes do rodízio: há um caminhão quebrado pronto pra te avacalhar.
Acelerou pra chegar logo: ralou a lateral no muro da garagem.
Foi no jogo do basquete: perdeu o último dia da exposição.
Conseguiu ir no cinema: não vai terminar de ler o Saramago nunca.
Tomou um porre dos bons: seu fígado não perdoa mais.
Parece que a gente sempre tá devendo.
quinta-feira, setembro 10
um pó de inspiração, por misericórdia
Vanz,
você que é redatora, planejamento, roteirista, diretora técnica, pilota de rally, assessora de imprensa, atendimento e linda, será que pode...
Era um email de trabalho. O assunto? Não interessa o assunto, porra. Interessa o seguinte: por que eu não consigo com a rotina?
É que depois de mulher-melancia, da mulher-samambaia, da mulher-o-diabo-de-quatro, surge a mulher-muda. Sou eu. A mulher que em menos de um ano muda de emprego, muda de cargo, muda de nariz, muda de barriga, muda de cabelo, muda de casa, muda de estado civil, muda de cabelo de novo, muda de cargo de novo. Muda de pele. Muda de história.
História?
A vida está tão sem graça pra contar histórias.
Era uma vez um tempo onde as mais medonhas desgraças recebiam um sinsalabim e viravam textos divertidos. Estou pra postar um conto que foi a maior humilhação amorosa já vivida. Coisa trash mesmo. E sem tempo de procurá-lo no baú. Sem tempo de voar para o próximo varal.
Conheço o bloqueio. Chama-se "puta cagaço": de virar bicho preguiçoso, humano burro, leva-e-trás do mundo dos negócios. Fico agarrada no que me resta de criativo, até sangra os dedos. Até secar os olhos. Até tampar a garganta. É medo dele sumir de mim.
Glória, que continuo dramática!
você que é redatora, planejamento, roteirista, diretora técnica, pilota de rally, assessora de imprensa, atendimento e linda, será que pode...
Era um email de trabalho. O assunto? Não interessa o assunto, porra. Interessa o seguinte: por que eu não consigo com a rotina?
É que depois de mulher-melancia, da mulher-samambaia, da mulher-o-diabo-de-quatro, surge a mulher-muda. Sou eu. A mulher que em menos de um ano muda de emprego, muda de cargo, muda de nariz, muda de barriga, muda de cabelo, muda de casa, muda de estado civil, muda de cabelo de novo, muda de cargo de novo. Muda de pele. Muda de história.
História?
A vida está tão sem graça pra contar histórias.
Era uma vez um tempo onde as mais medonhas desgraças recebiam um sinsalabim e viravam textos divertidos. Estou pra postar um conto que foi a maior humilhação amorosa já vivida. Coisa trash mesmo. E sem tempo de procurá-lo no baú. Sem tempo de voar para o próximo varal.
Conheço o bloqueio. Chama-se "puta cagaço": de virar bicho preguiçoso, humano burro, leva-e-trás do mundo dos negócios. Fico agarrada no que me resta de criativo, até sangra os dedos. Até secar os olhos. Até tampar a garganta. É medo dele sumir de mim.
Glória, que continuo dramática!
quarta-feira, setembro 2
tietagem sim.
ziquizira no céu
O horóscopo aconselhou a amiga libriana: ôh mulher, para de falar da vida privada que dá zica. Disse para tomar cuidado com letras miudinhas de contratos e mandou esperar até o mês que vem para assinar qualquer coisa. Ordenou que guarde dinheiro e que não mexa em investimentos para realizar algo que ainda duvida que seja. Contou também que qualquer atividade iniciada este mês terá começo turbulento. Pediu para ficar atenta com o sistema digestivo e adiantou que vai ter que ceder para agradar o ser amado. Avisou para não contar com os colegas do trabalho e pediu para ser intuitiva e institiva. Disse que vai trabalhar muito e que uma decisão tomada lá pelo dia 15 vai mudar a sua vida. E que só dia 28 os planetas entram no eixo.
E hoje só é dia 02.
E hoje só é dia 02.
sabotagem corporativa
[ou: batalha pelo direito de viver uma segunda-feira além da rotina]
Quatro meses de trabalho prévio. Nove dias de trabalho contínuo. Dezesseis horas de trabalho/dia. Trezentas pessoas na equipe. Mil pessoas convidadadas. E uma intoxicação alimentar. Assim se consagrou o evento de lançamento da Nova Saveiro, em Porto de Galinhas, Pernambuco. Sucesso total, cliente feliz, agência satisfeita. Dei-me o direito de retornar a São Paulo [essa terra linda onde tudo funciona 24 horas] e frear. Tirar um dia de folga. Ir no podólogo. Almoçar em casa. Sair com o Gabi. Assistir à "Força G" em 3D. Experimentar Yogoberry. Comprar pulseira. Depois jantar num japa com o Flávio junto, para comemorar a minha volta e testar meu estômago.
Terça-feira descubro que só eu me dei ao luxo. Ao retornar, já com a nova função atendimento num clic, me deu um sono tão grande. E uma certeza: odeio me sentir culpada quando vivo.
Quatro meses de trabalho prévio. Nove dias de trabalho contínuo. Dezesseis horas de trabalho/dia. Trezentas pessoas na equipe. Mil pessoas convidadadas. E uma intoxicação alimentar. Assim se consagrou o evento de lançamento da Nova Saveiro, em Porto de Galinhas, Pernambuco. Sucesso total, cliente feliz, agência satisfeita. Dei-me o direito de retornar a São Paulo [essa terra linda onde tudo funciona 24 horas] e frear. Tirar um dia de folga. Ir no podólogo. Almoçar em casa. Sair com o Gabi. Assistir à "Força G" em 3D. Experimentar Yogoberry. Comprar pulseira. Depois jantar num japa com o Flávio junto, para comemorar a minha volta e testar meu estômago.
Terça-feira descubro que só eu me dei ao luxo. Ao retornar, já com a nova função atendimento num clic, me deu um sono tão grande. E uma certeza: odeio me sentir culpada quando vivo.
sexta-feira, agosto 21
laços
No dia 20, Dona Gercina fez 60 anos e o encontro, que era para ser entre as duas Guedes de Souza restantes, cresceu. Foram também minhas irmãs e meu filho. (pausa reflexiva durante a espera do chope que nunca chegava): foi assim que entrou essa certeza na cabeça, da família não-sanguínea, de duas irmãs e de um filho.
Na madrugada, F. ficou com a corda solta e foi farrear com a turma da agência. Acho ótimo, tem que ir mesmo. Mas, quando era alta madrugada e ele não voltava, eu já imaginava o que fazer se eu ligasse no celular e o paramédico do SAMU atendesse. Eu ligaria pra alguém da família dele? Eu tenho o telefone de alguém da família dele? Depois que ele chegou bem e feliz, eu ri sozinha da graça que há até nas desgraças.
No cartório civil do bairro da Liberdade, você pode verificar que sou filha única. Nas estatísticas das revistas femininas, meus óvulos não fecundados têm quatro anos para vingar saudáveis. Nos formulários burocráticos, preencho a opção 1 [estado civil: solteiro]. E daí? Ontem, comendo pizza a noite e depois rindo de madrugada, entendi essa frase que vem me martelando faz alguns dias: eu sou uma das pessoas mais felizes que eu conheço.
Na madrugada, F. ficou com a corda solta e foi farrear com a turma da agência. Acho ótimo, tem que ir mesmo. Mas, quando era alta madrugada e ele não voltava, eu já imaginava o que fazer se eu ligasse no celular e o paramédico do SAMU atendesse. Eu ligaria pra alguém da família dele? Eu tenho o telefone de alguém da família dele? Depois que ele chegou bem e feliz, eu ri sozinha da graça que há até nas desgraças.
No cartório civil do bairro da Liberdade, você pode verificar que sou filha única. Nas estatísticas das revistas femininas, meus óvulos não fecundados têm quatro anos para vingar saudáveis. Nos formulários burocráticos, preencho a opção 1 [estado civil: solteiro]. E daí? Ontem, comendo pizza a noite e depois rindo de madrugada, entendi essa frase que vem me martelando faz alguns dias: eu sou uma das pessoas mais felizes que eu conheço.
quinta-feira, agosto 13
terça-feira, agosto 11
in tour
sábado, agosto 8
A não vida de Menina da Silva
Todo dia
na ladeira contra o sol
ela olhava para o lado
em busca de um aceno
na varanda.
Todo dia
na ladeira contra o sol
ela olhava para cima
em busca de afago
no cruzamento.
Todo dia
na ladeira contra o sol
ela olhava para dentro
em busca de passagem
na vida.
Naquele dia,
não olhou.
na ladeira contra o sol
ela olhava para o lado
em busca de um aceno
na varanda.
Todo dia
na ladeira contra o sol
ela olhava para cima
em busca de afago
no cruzamento.
Todo dia
na ladeira contra o sol
ela olhava para dentro
em busca de passagem
na vida.
Naquele dia,
não olhou.
quinta-feira, julho 30
quinta-feira, julho 23
burra de pai e mãe
Ela, sentada, quieta ao lado
dele, sentado, inquieto socador de um
teclado
marrom
oxidado
(foi um suco de laranja que ninguém confessou quem).
É sábado. É frio.
Ela, sentada, distraída
nele, revoltado, ávido conhecedor de
dilmas
michéis
maranhão
(foi um vaso de picão que ninguém confessou quem).
É chato. É frio.
Ela, sentada ou de pé
ou de lado ou de quatro
prefere
aquela série de TV
onde até a ilha
tem vida.
dele, sentado, inquieto socador de um
teclado
marrom
oxidado
(foi um suco de laranja que ninguém confessou quem).
É sábado. É frio.
Ela, sentada, distraída
nele, revoltado, ávido conhecedor de
dilmas
michéis
maranhão
(foi um vaso de picão que ninguém confessou quem).
É chato. É frio.
Ela, sentada ou de pé
ou de lado ou de quatro
prefere
aquela série de TV
onde até a ilha
tem vida.
quarta-feira, julho 22
princípio do fim?
Last Updated: July 22nd, 2009 (1:55pm PST)
Due to the logistics of the recently rescheduled European dates, Depeche Mode regret that the shows scheduled for Rio de Janeiro, Brazil and Sao Paulo, Brazil will not be taking place.
Depeche Mode wishes to sincerely apologize to their Brazilian fans for this news.
não me dei por vencida.
Due to the logistics of the recently rescheduled European dates, Depeche Mode regret that the shows scheduled for Rio de Janeiro, Brazil and Sao Paulo, Brazil will not be taking place.
Depeche Mode wishes to sincerely apologize to their Brazilian fans for this news.
não me dei por vencida.
terça-feira, julho 7
Elias
Do hebraico: "Meu Deus é Jeová".
De Caxambu: o rei.
Do almoço: pimenta.
Do humor: tangerina.
Do zêlo: doce de leite.
Da paixão: seu carrão.
Do profissional: ímpar.
Do amigo: simpatia.
Da saudade: Alexsandra, Ana Paula, Andréa, Antoniela, Bruno Cepolina, Bruno Cica, Carlão, Carol Bacelar, Carol Campos, Eric, Fabrícia, Flávio, Guto, Ingrid, Juliana, Raul, Saula, Simone, Vanessa, "Zebrinha".
Do adeus:_____________.
De Caxambu: o rei.
Do almoço: pimenta.
Do humor: tangerina.
Do zêlo: doce de leite.
Da paixão: seu carrão.
Do profissional: ímpar.
Do amigo: simpatia.
Da saudade: Alexsandra, Ana Paula, Andréa, Antoniela, Bruno Cepolina, Bruno Cica, Carlão, Carol Bacelar, Carol Campos, Eric, Fabrícia, Flávio, Guto, Ingrid, Juliana, Raul, Saula, Simone, Vanessa, "Zebrinha".
Do adeus:_____________.
segunda-feira, julho 6
das pedras que se voltam
Fui com pedras na mão e coração trancado ouvir você, António. Disseram que eras tão bom quanto Eça, mas que tinha treta com Saramago. Paguei pra ver. Foram os dez reais mais valiosos da minha vida.
Um António brasileiro de Portugal
António Lobo Antunes. Ok, nunca ouvi falar. Mas foi a briga de galo grande com meu segundo autor predileto que me levou para lá, sábado, FLIP, 19agá. Um senhor de camisa, colar com pingente de guitarra, nem aí pra gente toda. Ganhou-me quando pediram para ler um trecho de sua obra. "Esqueci", disse. E não leu nada, não precisou.
Brilhantemente conduzida pelo jornalista Humberto Werneck, a mesa 15 "Escrever é preciso" ferveu uma plateia que batia palmas das coisas mais simples ditas por António. Ele fazia cara de não tô entendendo. Eu lhe digo, António: desacostumamos do simples.
Falou muito do avô de Belém do Pará. Este homem que, ao descobrir o neto de 12 anos escrevendo poesia, o fuzilou com a pergunta "és viado?". Sem saber o que era viado, António disse não. E ao tentarem lhe explicar, aí que ele não entendeu mais nada. Foi por esse avô amado que descobriu Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompeia, Aluízio Azevedo. “Foi onde mamei”, disse.
Do Brasil, que não visitava desde 1983, diz que não é um país. "São cheiros, é a comida, maneiras de viver e falar. O Brasil é uma coisa íntima". Werneck alfinetou: "você não pode ficar tanto tempo longe, o outro (Saramago) vem mais". António riu de ombros.
Safo, vendia poemas católicos à avó alemã viúva deste avô brasileiro. Não entendia a dureza daquela mulher diante da morte do avô, preferia até a morte dela. Mas um dia ela disse: "hoje são 14 anos, tantos meses e tantos dias da morte de seu avô". Entendeu as superfícies de cada alma.
Daí falou do livro, um organismo vivo. "Todo grande livro, quando entra em você, se faz sozinho, deixa as mãos felizes."; "É preciso ir até as camadas mais profundas de todas as superfícies superpostas da consciência.", "Por isso gosto de escrever por cansaço.". Exaustão tive eu, só de imaginar.
António relembrou Jorge Amado, que lhe paparicava: ‘Gosto de lamber meus filhotes´, e João Ubaldo Ribeiro, que respondeu certa vez a quem lhe perguntou por que não escrevia mais: ´pois continuo escrevendo, meu heteronômio é António Lobo Antunes´.
Drummond, Cabral, Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima... doeu-me ouvir que leitura de poesia ensina mais que a de prosa. "Para escrever bem é preciso cortar até osso, advérbios e adjetivos, destes que Cortazar chamava de “essas putas”". Corto tudo então, António, que Marcelino já me avisou.
Receita pronta? Tem. "Para quem quer ser escritor, recomendo observar Garrincha jogando”. E aí percebi que era o apito final. E quando ele agradeceu a nós e a Deus, eu enfiei o rosto nas mãos e chorei um tanto, um tanto que não passou até a tenda e eu esvaziarmos. Já era saudade.
Um António brasileiro de Portugal
António Lobo Antunes. Ok, nunca ouvi falar. Mas foi a briga de galo grande com meu segundo autor predileto que me levou para lá, sábado, FLIP, 19agá. Um senhor de camisa, colar com pingente de guitarra, nem aí pra gente toda. Ganhou-me quando pediram para ler um trecho de sua obra. "Esqueci", disse. E não leu nada, não precisou.
Brilhantemente conduzida pelo jornalista Humberto Werneck, a mesa 15 "Escrever é preciso" ferveu uma plateia que batia palmas das coisas mais simples ditas por António. Ele fazia cara de não tô entendendo. Eu lhe digo, António: desacostumamos do simples.
Falou muito do avô de Belém do Pará. Este homem que, ao descobrir o neto de 12 anos escrevendo poesia, o fuzilou com a pergunta "és viado?". Sem saber o que era viado, António disse não. E ao tentarem lhe explicar, aí que ele não entendeu mais nada. Foi por esse avô amado que descobriu Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompeia, Aluízio Azevedo. “Foi onde mamei”, disse.
Do Brasil, que não visitava desde 1983, diz que não é um país. "São cheiros, é a comida, maneiras de viver e falar. O Brasil é uma coisa íntima". Werneck alfinetou: "você não pode ficar tanto tempo longe, o outro (Saramago) vem mais". António riu de ombros.
Safo, vendia poemas católicos à avó alemã viúva deste avô brasileiro. Não entendia a dureza daquela mulher diante da morte do avô, preferia até a morte dela. Mas um dia ela disse: "hoje são 14 anos, tantos meses e tantos dias da morte de seu avô". Entendeu as superfícies de cada alma.
Daí falou do livro, um organismo vivo. "Todo grande livro, quando entra em você, se faz sozinho, deixa as mãos felizes."; "É preciso ir até as camadas mais profundas de todas as superfícies superpostas da consciência.", "Por isso gosto de escrever por cansaço.". Exaustão tive eu, só de imaginar.
António relembrou Jorge Amado, que lhe paparicava: ‘Gosto de lamber meus filhotes´, e João Ubaldo Ribeiro, que respondeu certa vez a quem lhe perguntou por que não escrevia mais: ´pois continuo escrevendo, meu heteronômio é António Lobo Antunes´.
Drummond, Cabral, Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima... doeu-me ouvir que leitura de poesia ensina mais que a de prosa. "Para escrever bem é preciso cortar até osso, advérbios e adjetivos, destes que Cortazar chamava de “essas putas”". Corto tudo então, António, que Marcelino já me avisou.
Receita pronta? Tem. "Para quem quer ser escritor, recomendo observar Garrincha jogando”. E aí percebi que era o apito final. E quando ele agradeceu a nós e a Deus, eu enfiei o rosto nas mãos e chorei um tanto, um tanto que não passou até a tenda e eu esvaziarmos. Já era saudade.
terça-feira, junho 30
anarquia é felicidade
[enviado por f., um incansável soldado contra o Sistema]
"...o segredo de uma vida prazerosa é viver perigosamente. Uma vida prazerosa é uma vida ativa - e não o monótono estado estático que se costuma chamar de felicidade. Cheia de fogo ardente do entusiasmo, anárquica, revolucionária, vigorosa, demoníaca, dionisíaca, transbordando com o enorme anseio de criar - assim é a vida do homem que arrisca segurança e felicidade por crescimento e felicidade."
Friederich Nieztche
"...o segredo de uma vida prazerosa é viver perigosamente. Uma vida prazerosa é uma vida ativa - e não o monótono estado estático que se costuma chamar de felicidade. Cheia de fogo ardente do entusiasmo, anárquica, revolucionária, vigorosa, demoníaca, dionisíaca, transbordando com o enorme anseio de criar - assim é a vida do homem que arrisca segurança e felicidade por crescimento e felicidade."
Friederich Nieztche
quarta-feira, junho 24
domingo, junho 21
procura-se
sexta-feira, junho 19
delicadezas
Uma e meia da manhã. O abajur ligado pra ela não trombar pela casa. Fofo. Vai para o banho, a toalha já está no box. Mimo. Ao lado do travesseiro, uma mantinha para cobrir a garganta inflamada. Zêlo. De manhã, quando ela se achou apaixonada demais, viu a Revista da Folha falando da Flip, com texto do autor predileto, deixada estrategicamente sobre a mesa. Aí ela gamou de vez.
sem fotos
Cansei dessa foto mascarada que estampo nas redes sociais. Procurei outra. Não tem. Não tenho foto sozinha. Recente. Uma foto bacaninha assim, dessas que se divulgam. O Gabz tirou uma que eu adoro, tá lá no orkut dele. Orkut também não tenho, obrigada. Mas e a foto? Vai ficando a mascarada mesmo. Um dia alguém me pega de surpresa e tira uma dessas fotos bem naturais, que a gente (finge que) não viu que estavam tirando. Fica aqui o pedido.
quinta-feira, junho 18
O monóxido como testemunha
Nunca foi de fumar no quarto, achava o território impróprio para o alcatrão. Mas daquela vez, a última, permitiu que o clarão do Zippo encontrasse a ponta do bastonete branco. Essa sim parecia ser a união perfeita, onde um cria o fogo e outro é consumido até seu fim. O filete de fumaça preenchia os vazios, o cinzeiro enchia-se de restos como cama de puteiro.
Seus amigos de hoje são as bituca que jaziam babadas, esmagadas, aguardando o funeral no lixo do banheiro. Ele também era uma bituca. Uma bituca que foi acesa de novo pelo desejo de dar um basta. Enquanto faltava ação, se agarrava ao bastão: mais um, mais dois, agora o terceiro maço desta vida maçante.
Era noite funda, silêncio opaco. O apito do vigilante vinha como um pássaro desgraçado para contar os minutos de espera. E os minutos viraram horas. E as horas tiraram o negrume da janela, que ganhava tons azuis, rosas, até o céu virar brasa. O corpo já não acompanhava a mente inquieta e clamava por descanso. Seu último ato foi deixar o bilhete: “quando chegar, me acorde”.
Com o orgulho chamuscado, ela tinha partido com olhos irritados, depois de gritar seus arrependimentos e culpas e submissões. Mulheres. Agora, respirando a manhã poluída, ela saltava uns passos apressados como compulsão: parecia ser sua última chance. Mas não era: ela se salvou da sina de fumante passiva e nunca chegou, enquanto ele, enfartado, nem acordou.
Seus amigos de hoje são as bituca que jaziam babadas, esmagadas, aguardando o funeral no lixo do banheiro. Ele também era uma bituca. Uma bituca que foi acesa de novo pelo desejo de dar um basta. Enquanto faltava ação, se agarrava ao bastão: mais um, mais dois, agora o terceiro maço desta vida maçante.
Era noite funda, silêncio opaco. O apito do vigilante vinha como um pássaro desgraçado para contar os minutos de espera. E os minutos viraram horas. E as horas tiraram o negrume da janela, que ganhava tons azuis, rosas, até o céu virar brasa. O corpo já não acompanhava a mente inquieta e clamava por descanso. Seu último ato foi deixar o bilhete: “quando chegar, me acorde”.
Com o orgulho chamuscado, ela tinha partido com olhos irritados, depois de gritar seus arrependimentos e culpas e submissões. Mulheres. Agora, respirando a manhã poluída, ela saltava uns passos apressados como compulsão: parecia ser sua última chance. Mas não era: ela se salvou da sina de fumante passiva e nunca chegou, enquanto ele, enfartado, nem acordou.
quarta-feira, junho 10
bunda em revista
Nossa heroína, atenta aos avisos que lhe deram, tinha um plano: não sairia mais do carro quando o guardinha pedisse para revistar o veículo. Esperta, ela deixaria o notebook no banco, com fácil acesso, e nunca mais precisaria passar pela desagradável situação de sentir sua pequenina bunda sendo avistada pela tropa de segurança.
Saindo da reunião, a heroína caminhou até seu carro, estacionado no pátio da grande fábrica, e apenas quando avistou a cancela, lembrou-se "xiiiii, o notebook ficou no banco de trás!". Mas não haveria problema: ela se contorceria inteira dentro do carro mas não deixaria aquele banco de motorista por nada.
Foi então que aconteceu o inesperado. Quando o guardinha pediu para ver o notebook, ela virou-se toda para trás em busca da bolsinha e, de repente, ouve:
- Bota.
Mais assustada do que ágil, ela indaga ao guardinha:
- Bota?
E o guardinha, sorriso frouxo e simpatia além da cota, responde:
- Bota. É só dar um friozinho que a mulherada já coloca bota.
- Ah, tem que aproveitar pra usar né? - responde estupidamente a heroína, que depois de mostrar o número de série do notebook e ser liberada sem acusação de roubo de informações confidenciais, concluiu que "se o cara viu a minha bota debaixo do volante, imagina o raio-x que ele fez da minha nuca até o calcanhar".
Mais uma vez, humilhada, a heroína pegou o trânsito da Anchieta.
Saindo da reunião, a heroína caminhou até seu carro, estacionado no pátio da grande fábrica, e apenas quando avistou a cancela, lembrou-se "xiiiii, o notebook ficou no banco de trás!". Mas não haveria problema: ela se contorceria inteira dentro do carro mas não deixaria aquele banco de motorista por nada.
Foi então que aconteceu o inesperado. Quando o guardinha pediu para ver o notebook, ela virou-se toda para trás em busca da bolsinha e, de repente, ouve:
- Bota.
Mais assustada do que ágil, ela indaga ao guardinha:
- Bota?
E o guardinha, sorriso frouxo e simpatia além da cota, responde:
- Bota. É só dar um friozinho que a mulherada já coloca bota.
- Ah, tem que aproveitar pra usar né? - responde estupidamente a heroína, que depois de mostrar o número de série do notebook e ser liberada sem acusação de roubo de informações confidenciais, concluiu que "se o cara viu a minha bota debaixo do volante, imagina o raio-x que ele fez da minha nuca até o calcanhar".
Mais uma vez, humilhada, a heroína pegou o trânsito da Anchieta.
Cirandinha
Rita se chamava Rita mas queria se chamar Anita. Malfatti.
Amanda se chamava Amanda mas queria se chamar Fernanda. Montenegro.
Elisa se chamava Elisa mas queria se chamar Luisa. Mell.
Carolina se chamava Carolina mas queria se chamar Carolina. Mesmo.
Rita continuou Rita.
Amanda continuou Amanda.
Elisa continuou chata.
E a prima Carolina trocou de nome na Justiça. Agora é Carlos Paiva Neto.
Amanda se chamava Amanda mas queria se chamar Fernanda. Montenegro.
Elisa se chamava Elisa mas queria se chamar Luisa. Mell.
Carolina se chamava Carolina mas queria se chamar Carolina. Mesmo.
Rita continuou Rita.
Amanda continuou Amanda.
Elisa continuou chata.
E a prima Carolina trocou de nome na Justiça. Agora é Carlos Paiva Neto.
sexta-feira, maio 29
rendida
Querido Mestre Marcelino,
há quanto tempo. Desde 22 de abril não tenho a felicidade de sentar contigo, junto com umas vinte pessoas mais, para comer literatura in natura.
Eu faltei por que fui tomar cerveja. É. Cabulei pra ver as amigas. Mas... sabe arrependimento? Eu tenho. Vê se pode: uma delas partiu mais cedo, a galope, pra encontrar um cara que estalou os dedos. Naquela mesa, comendo filé com "se liga minha filha", eu fumei minha última ponta de esperança na independência sentimental feminina.
Parece castigo. Ou praga. De lá pra cá toda quarta-feira foi de drama. Meu vô morreu. Meu computador corrompeu. Minha chefe pirou. Meu corpo variou. Para cheirar confiança no meu taco, mergulhei num pó sem fim.
Quando fugi, tivemos Glauco Mattoso entre nós (parecia o fim da minha cegueira). Nós conversamos pouco, o suficiente para eu timidamente me gabar de suas palavras: "você não pode sumir assim não! justo agora que seu texto tá tão..." - não lembro a palavra que você usou, mas foi elogio que valeu cada cólica literária.
Depois disso, as quartas-feiras firmaram-se ácidas. Pingaram no ouvido como não-inspiração. Mas eu poderia insistir, não poderia? Lutar, não me conformar, mandar tudo a merda, caralho.
Nesta última quarta, me rendi. Ao sistema. Ao trabalho. Ao comum. Porra, Marcelino!: eu desisti da oficina.
Quer maior ironia? Eu reclamo que me falta conflito.
há quanto tempo. Desde 22 de abril não tenho a felicidade de sentar contigo, junto com umas vinte pessoas mais, para comer literatura in natura.
Eu faltei por que fui tomar cerveja. É. Cabulei pra ver as amigas. Mas... sabe arrependimento? Eu tenho. Vê se pode: uma delas partiu mais cedo, a galope, pra encontrar um cara que estalou os dedos. Naquela mesa, comendo filé com "se liga minha filha", eu fumei minha última ponta de esperança na independência sentimental feminina.
Parece castigo. Ou praga. De lá pra cá toda quarta-feira foi de drama. Meu vô morreu. Meu computador corrompeu. Minha chefe pirou. Meu corpo variou. Para cheirar confiança no meu taco, mergulhei num pó sem fim.
Quando fugi, tivemos Glauco Mattoso entre nós (parecia o fim da minha cegueira). Nós conversamos pouco, o suficiente para eu timidamente me gabar de suas palavras: "você não pode sumir assim não! justo agora que seu texto tá tão..." - não lembro a palavra que você usou, mas foi elogio que valeu cada cólica literária.
Depois disso, as quartas-feiras firmaram-se ácidas. Pingaram no ouvido como não-inspiração. Mas eu poderia insistir, não poderia? Lutar, não me conformar, mandar tudo a merda, caralho.
Nesta última quarta, me rendi. Ao sistema. Ao trabalho. Ao comum. Porra, Marcelino!: eu desisti da oficina.
Quer maior ironia? Eu reclamo que me falta conflito.
segunda-feira, maio 25
sogrices
- Você só pinta a unha dessa cor? Não gosto.
- O que acontece que ele nunca está em casa?
- Muito bem, agora é só arrumar a sua postura... assim... melhor.
- Mas você deixa ele ficar lá embaixo até essa hora?
- Eu não sei qual é a orientação dela para decoração... mas essa bonequinha tinha que ficar no banheiro, não na sala.
- Levei uma caixinha pra casa e, quando abri, vi que era um porta-retrato. Seu.
- Você tem que dominar a empregada.
- É melhor demorar bastante pra ter bebê.
- Logo, logo você já vai ficar grávida e...
- Eu iria se me levassem.
- Ah! vocês vão ficar?... eu achei que vocês iriam pra uma casa... que perigo!
- Já pedi pra ele me ligar antes. Você dá os meus recados?
- Eu reparei que você tá dando uma engordadinha.
- Oh minha filha, seu nariz ainda tá bem tortinho né...
- O que acontece que ele nunca está em casa?
- Muito bem, agora é só arrumar a sua postura... assim... melhor.
- Mas você deixa ele ficar lá embaixo até essa hora?
- Eu não sei qual é a orientação dela para decoração... mas essa bonequinha tinha que ficar no banheiro, não na sala.
- Levei uma caixinha pra casa e, quando abri, vi que era um porta-retrato. Seu.
- Você tem que dominar a empregada.
- É melhor demorar bastante pra ter bebê.
- Logo, logo você já vai ficar grávida e...
- Eu iria se me levassem.
- Ah! vocês vão ficar?... eu achei que vocês iriam pra uma casa... que perigo!
- Já pedi pra ele me ligar antes. Você dá os meus recados?
- Eu reparei que você tá dando uma engordadinha.
- Oh minha filha, seu nariz ainda tá bem tortinho né...
segunda-feira, maio 11
medo
De ficar desfigurada.
De bater o carro na estrada.
De não ter filho.
De influenciar mal.
De ter doença terminal.
De ficar burra.
De acabar meu dinheiro.
De morar num pulgueiro.
De ficar sozinha.
E quando ficar velhinha,
de ser chata, dependente e grudenta -
dessas gagás que a família não aguenta.
Tenho medo de ser: a última a morrer.
De bater o carro na estrada.
De não ter filho.
De influenciar mal.
De ter doença terminal.
De ficar burra.
De acabar meu dinheiro.
De morar num pulgueiro.
De ficar sozinha.
E quando ficar velhinha,
de ser chata, dependente e grudenta -
dessas gagás que a família não aguenta.
Tenho medo de ser: a última a morrer.
sexta-feira, maio 8
esmaltada em três atos
Ato I | Só lamento
Sofro. São três semanas sem manicure. Mãos branquelas, cutícula nhacas; pés de gárgula com vergonhosos descascados. Desesperada, propus, para um evento, uma ação de manicure express - ideal para mulheres que trabalham pra caralho, tipo você e eu. Foi recusada pelo atendimento, que é homem, que não tá nem aí pras unhas. Bestão.
Ato II | Da cor que a sogra odeia
A Gerlova enviou um site de um cara que criou esmaltes foscos, amados pelas divas do glamrock - e pelas nem tão divas, como eu: que caí de paixão fulminante. Pretos, azuis, verdes, roxos... Tanta cor supercoooool! (sabia que meu sonho é trabalhar numa indústria de cosméticos só para dar nome às coleções de esmalte?)
Essa ilustra bonita é do tal site bacanudo: http://koknockout.com/
Ato III | Eu prefiro ter um filho viado do que unhas de puta do baixio
Extra! Extra! A mocinha do novo salão lá perto de casa acabou de confirmar meu horário pra hoje. Vou voar pela Castelo, atropelar de pomba a motoboy, dar desculpa pra chefe, não interessa. Black nails, aí vou eu!
quinta-feira, maio 7
etelvino guedes
Baiano das redondezas de Feira de Santana, de uma cidade que nunca decorei qual é. Pai de nove filhos vingados. Avô de uns trinta. Tataravó de cinco. Trabalhador rural do oeste paulista. Aposentado, montou uma venda de bugigangas vindas da 25 de março: bijoux, tic-tacs, diademas e todas as modas das novelas das oito. Quando não estava na venda, estava na praça em frente de casa. Ou na varanda, sentado naquelas cadeiras de tiras coloridas de plástico. Zangava com a esposa: "ô Dona Odete, para de papear com esse papagaio". Então ela, faladeira que é, ia papear com ele, que queria assistir ao jornal em paz. Aí ele emburrava, mas depois a chamava de princesa.
Tinha fama de muito bravo, só que amoleceu com os netos. Sorte minha.
De pouca fala e riso certo, dizia que tinha tudo. Quando lhe faltou algo, faltou ar. Fomos para Mirante do Paranapanema. Mas eu não dei adeus, não quis ver. Preferi ficar com a memória da última vez em que nos encontramos, quando ele me deu um tatu de madeira de presente.
Tinha fama de muito bravo, só que amoleceu com os netos. Sorte minha.
De pouca fala e riso certo, dizia que tinha tudo. Quando lhe faltou algo, faltou ar. Fomos para Mirante do Paranapanema. Mas eu não dei adeus, não quis ver. Preferi ficar com a memória da última vez em que nos encontramos, quando ele me deu um tatu de madeira de presente.
terça-feira, abril 28
domingos
28/04/2009 14:21 "Alexsandra Gerlova"
To "Vguedes", "Flavio", "gabrielvighycarvalho"
Subject Ao clã Carvalho
Oi meus queridos.
Só queria notificar mais uma vez que o meu domingo foi maravilhoso.
Uma ótima família, num belo dia de sol, crianças por todos os lados, boa comida e bebida.
Um dia de vitórias. Minhas, do Gabi, da Van, do Flavião.
Gosto muito de estar com vocês.
Quando arranjarem a casa, não se esqueçam do meu quarto.
Um beijo cheio de amor e gratidão,
da Ale grega
To "Vguedes", "Flavio", "gabrielvighycarvalho"
Subject Ao clã Carvalho
Oi meus queridos.
Só queria notificar mais uma vez que o meu domingo foi maravilhoso.
Uma ótima família, num belo dia de sol, crianças por todos os lados, boa comida e bebida.
Um dia de vitórias. Minhas, do Gabi, da Van, do Flavião.
Gosto muito de estar com vocês.
Quando arranjarem a casa, não se esqueçam do meu quarto.
Um beijo cheio de amor e gratidão,
da Ale grega
sexta-feira, abril 24
as novas noitadas
com o Gabz:
Fez lição? Arrumou a mochila? Guardou o uniforme do basquete? Tomou banho? Jantou? Então coloca aí o Lost e vamos abrir mais um ovo de páscoa.
com o Flávio:
... me dá boa noite agora que quando você deitar eu já "vô tá" dormindo.
(uma hora depois) ... beija de novo?
com o guarda-roupa:
Foi-se a calça. A blusa preta sumiu. Ontem não achei as alças do meu sutiã. Mas toalha cheirosinha e passada é bom pra caralho, né?
Fez lição? Arrumou a mochila? Guardou o uniforme do basquete? Tomou banho? Jantou? Então coloca aí o Lost e vamos abrir mais um ovo de páscoa.
com o Flávio:
... me dá boa noite agora que quando você deitar eu já "vô tá" dormindo.
(uma hora depois) ... beija de novo?
com o guarda-roupa:
Foi-se a calça. A blusa preta sumiu. Ontem não achei as alças do meu sutiã. Mas toalha cheirosinha e passada é bom pra caralho, né?
quinta-feira, abril 16
Vacas magras
- Imagina um marido que, além de broxa, rouba o seu dinheiro. Érre-ó-ú-bê-á. Rouba! Abre minha bolsa, mexe em cada buraquinho, me deixa sem um puto furado pra recarregar o Bilhete. Ainda bem que a Martinha, sabe a Martinha, nossa vizinha nova? Então, ainda bem que a Martinha tava comigo pra me emprestar, se não eu não chegava na zona sul nunca. E olha que não é de agora: ele pega faz tempo e gasta tudo com aquele bando de besta do bar do Anísio. Agora fico eu tendo que enfiar dinheiro dentro do pacote de modess pra ele não achar. Por que nessas coisas de mulher, ele não tasca a mão. Tem nojo. Tem nojo de mim, já te contei? Contei sim, que o Ceará não me procura faz mais de mês. Que homem que consegue ficar tanto tempo sem arrepiar, conhece algum? Ele não presta mais nem pra isso, Creunice! Desde que teve o corte na firma não quis mais saber, só fica bebendo o dinheiro da Caixa Econômica. E eu me danando numa faxina de domingo a domingo por que, chega fim de semana, a casa tá que parece chiqueiro. O chão todo pisado, os rejuntes cheinhos de bolor... Contei que o broxa golfou no sofá todinho? O sofá que nem terminei de pagar, Creunice! Também, só chega virado na cachaça. Com os meninos, é um pega pra capar que sai da frente. Aí vêm os quatro no chororô maldizendo o Ceará. Nem o meu menor, o Julianderson, gosta mais do pai. E olha que esse é filho dele de verdade. Mas o que eu posso fazer, me diz? Vou botar ele pra fora de casa pra levar bolacha na cara de novo? Eu não. Vou é falar com Mãe Zizó pra dar jeito. Ou volta a ser meu Ceará ou vira capado de vez, você não acha?
Atenta, Creunice abanava as moscas do rabo.
Atenta, Creunice abanava as moscas do rabo.
quarta-feira, abril 15
segunda-feira, abril 13
adeus à vida pré-flaviástica
MOÇA SOLTEIRA VENDE TUDO
Cama box modelo queen size.
Criado-mudo branquinho com tampo de vidro, duas gavetas, rodinhas.
Cadeira de varanda, dessas que fecham.
Sofá divã, mal se para sentado nele de tão bom.
Mesa de jantar com tampo de vidro, base branca.
E quatro cadeiras marrons, com assento branco.
TV 29", tela plana, daquelas de tubo.
Móvel branco para TV e DVD, com gavetão.
Móvel para livros, revistas e bibelôs. Tudo branco.
As coisas de cozinha, já dei.
Cama box modelo queen size.
Criado-mudo branquinho com tampo de vidro, duas gavetas, rodinhas.
Cadeira de varanda, dessas que fecham.
Sofá divã, mal se para sentado nele de tão bom.
Mesa de jantar com tampo de vidro, base branca.
E quatro cadeiras marrons, com assento branco.
TV 29", tela plana, daquelas de tubo.
Móvel branco para TV e DVD, com gavetão.
Móvel para livros, revistas e bibelôs. Tudo branco.
As coisas de cozinha, já dei.
Carta de um lorde
Ontem recebi uma carta do diabo me pedindo a receita daquela torta de cenoura com cobertura de chocolate que a vó Jesuína fazia. Diabo burro! Não lembra que a velha bateu as botas antes de passar o segredo? Eu acho é que o diabo está com Alzheimer.
Ele contou que está tranquilo com a vida bucólica da fazenda no Texas. Vive de ressaca de sangue de cordeiro e continua fodendo éguas velhas, com parcimônia. O diabão não dá mais no couro como nos bons tempos.
Meu velho lembrou da farra que fizemos num inferninho da baixa Augusta, aquele atrás da Universal. Foi na vez que apareci com uma “drag” baita gostosa toda trabalhada num couro vermelho, lembra? As botas ele comprou na lojinha da Joelma, mas o corselete era meu. E o filho da puta nunca mais devolveu.
Como de costume, reclamou questões relevantes (para ele, egoísta que é). Concorrência, por exemplo. “O que será de mim nessa terra onde todo mundo mete um no cu do outro pra escapar da bronca?”. É uma besta mesmo! Desde quando sodomia choca, meu lorde?
(Foram essas dores filosóficas que me encheram tanto o saco a ponto de eu pedir o afastamento. Era um cara muito pra baixo, sabe?)
Mandou eu ficar de olho num tal de Hussein da Casa Branca. Disse que esse cara promete. Mas eu não estou dizendo que o diabo já deu o que tinha que dar? A anta nem se ligou que o Saddam já era.
Ele contou que está tranquilo com a vida bucólica da fazenda no Texas. Vive de ressaca de sangue de cordeiro e continua fodendo éguas velhas, com parcimônia. O diabão não dá mais no couro como nos bons tempos.
Meu velho lembrou da farra que fizemos num inferninho da baixa Augusta, aquele atrás da Universal. Foi na vez que apareci com uma “drag” baita gostosa toda trabalhada num couro vermelho, lembra? As botas ele comprou na lojinha da Joelma, mas o corselete era meu. E o filho da puta nunca mais devolveu.
Como de costume, reclamou questões relevantes (para ele, egoísta que é). Concorrência, por exemplo. “O que será de mim nessa terra onde todo mundo mete um no cu do outro pra escapar da bronca?”. É uma besta mesmo! Desde quando sodomia choca, meu lorde?
(Foram essas dores filosóficas que me encheram tanto o saco a ponto de eu pedir o afastamento. Era um cara muito pra baixo, sabe?)
Mandou eu ficar de olho num tal de Hussein da Casa Branca. Disse que esse cara promete. Mas eu não estou dizendo que o diabo já deu o que tinha que dar? A anta nem se ligou que o Saddam já era.
quarta-feira, abril 8
indomesticáveis
Fui rendida pela coqueluche fashion da temporada e me entreguei à calça saruel. De malha fininha, amassadinha, stretch, certinha no corpo, marrom. Uma gostosura de conforto, parece que a gente tá pelada. Peguei amor.
Minha Saruel e eu vivíamos felizes até que a desgraça aconteceu: a calça foi passada com ferro quente. Passada! Me amassa que eu tô passada!
(pausa para contar até dez. dez mil)
O que era a nova queridinha do guarda-roupa virou uma coisa mulambenta tamanho XGGGGG comparável aos moletons cagados dos velhinhos dos asilos esquecidos pelo Poder Público.
Quando a encontrei desfalecida, saí correndo até a área de serviço para molhá-la e, com pregadores de roupa, fiz "bigudinhos" em cada pedacinho do tecido na esperança de recuperar o amassadinho. Na manhã seguinte, tive que viajar e deixei a recomendação: só tirem do varal quando ela voltar ao normal.
De volta a Sampa. No mesmo cabide, a mesma calça desmilinguida. Flávio, com três dias de saudade, recebeu em troca esta romântica frase: "Eu mato a Edna na segunda-feira!". A madrugada virou um campo de lamentações: eu inconformada, o gato num contínuo "coitada, ela não sabia..."
Aqui, uma rara imagem que restou do meu sonho fashion destruído: a Saruel em um momento feliz, entre pessoas que ela amou intensamente e com brevidade.
Amada Saruel.
Saudade daquela que tardiamente te amou.
Lembrança eterna.
Edna continua viva. E meu coração, arregaçado.
Minha Saruel e eu vivíamos felizes até que a desgraça aconteceu: a calça foi passada com ferro quente. Passada! Me amassa que eu tô passada!
(pausa para contar até dez. dez mil)
O que era a nova queridinha do guarda-roupa virou uma coisa mulambenta tamanho XGGGGG comparável aos moletons cagados dos velhinhos dos asilos esquecidos pelo Poder Público.
Quando a encontrei desfalecida, saí correndo até a área de serviço para molhá-la e, com pregadores de roupa, fiz "bigudinhos" em cada pedacinho do tecido na esperança de recuperar o amassadinho. Na manhã seguinte, tive que viajar e deixei a recomendação: só tirem do varal quando ela voltar ao normal.
De volta a Sampa. No mesmo cabide, a mesma calça desmilinguida. Flávio, com três dias de saudade, recebeu em troca esta romântica frase: "Eu mato a Edna na segunda-feira!". A madrugada virou um campo de lamentações: eu inconformada, o gato num contínuo "coitada, ela não sabia..."
Aqui, uma rara imagem que restou do meu sonho fashion destruído: a Saruel em um momento feliz, entre pessoas que ela amou intensamente e com brevidade.
Amada Saruel.
Saudade daquela que tardiamente te amou.
Lembrança eterna.
Edna continua viva. E meu coração, arregaçado.
dona DiRce
Ela mandou avisar que esse mês chegou já com os dois pés no peito. Está mais cruel, mais irônica, mais odiosa. Sua maior virtude é deixar você tão furioso a ponto de rasgar a redinha e jogá-la do quinto andar. Tamanho excesso de testosterona que inundou seu corpinho curvilíneo pode até ser desculpa para ataques a você ou a qualquer um. Mas não se engane: DiRce é esperta, manipuladora, coisinha ruim, praticamente a protagonista de "A usurpadora". Aquela carinha de boneca é a face do demo, prestenção heim! DiRce é do mal, pega um pega geral. Tá nem aí para o que pensam. Atropela mesmo e ainda volta de ré, pra se certificar. A mulher tem classe: humilha só de olhar. Faz ruindade e foda-se. Mas tem remédio para o veneno da jararaca, sabia? Só que, se eu contar, é de mim que ela vai se vingar.
DiRce, um dos meu alteregos, surje nos momentos de fúria, rancor e mágoa. Fuja do caminho dela, pé de pato, mangalô, três vezes.
DiRce, um dos meu alteregos, surje nos momentos de fúria, rancor e mágoa. Fuja do caminho dela, pé de pato, mangalô, três vezes.
quarta-feira, abril 1
segunda-feira, março 30
radiohead
Foi 22 de março, O domingo de 2009. Pensei que, com alguns dias, conseguiria absorver o que foi aquilo lá. Ainda não consigo. Recorri ao Popload, do Lúcio Ribeiro, e de lá trago estas notinhas.
Primeiro, do set list paulistano alterado na unha:
e uma observação: Weird Fishes/Arpeggi, juntas, por favor.
Depois, a foto do cara. O cara.
Fecho este post tão embasbacada quanto estava desde às 22h d'O domingo anterior. Parece que vou ficar assim por toda a vida. Aceitem.
Primeiro, do set list paulistano alterado na unha:
e uma observação: Weird Fishes/Arpeggi, juntas, por favor.
Depois, a foto do cara. O cara.
Fecho este post tão embasbacada quanto estava desde às 22h d'O domingo anterior. Parece que vou ficar assim por toda a vida. Aceitem.
quinta-feira, março 19
a proibidona
Obrigada, meu São José, pela graça alcançada.
Obrigada, meu São José, por entender meus surtos psicóticos devido a privação total e absoluta de chocolate nestes 366 dias passados.
Obrigada, meu São José, por ter pegado mais leve neste ano.
Eu só não entendi que raios de recado o Senhor quis me dar quando o papelzinho que eu sorteei saiu pulando sozinho da minha mão. Seria por que a maçã é a fruta que simboliza o pecado?
Eu tô vivendo em pecado, São José? É isso?
Obrigada, meu São José, por entender meus surtos psicóticos devido a privação total e absoluta de chocolate nestes 366 dias passados.
Obrigada, meu São José, por ter pegado mais leve neste ano.
Eu só não entendi que raios de recado o Senhor quis me dar quando o papelzinho que eu sorteei saiu pulando sozinho da minha mão. Seria por que a maçã é a fruta que simboliza o pecado?
Eu tô vivendo em pecado, São José? É isso?
Hemisférios
Num segundo antes tentou avisar. Agitar os braços. Gritar. Sem tempo nem domínio, jogou-se. Todo o corpo, em desordem, esparramado pelo cinza. O mesmo cinza gelado que toda vez cisma em meter pedregulhos na sua pele. Melhor assim. Ruim são os dias em que o cinza ferve e a pele esfola e derrete. Não tem reza que cure.
Agora esmurra a cabeça. Treme. Contrai tudo. As mãos viradas para dentro tentam agarrar os pulsos. Quase não se nota as pernas dando saltinhos curtos. Vem crescendo um cuspe branco, denso. Parece a espuma do córrego ali debaixo. Enquanto a língua se enrosca, ele mastiga a própria carne com um resto de dentes podres. É uma boca que ainda teima em sorrir.
Luzes sobre a cena e uma certa piedade blasé. Um ou dois fizeram o esforço de ter alguma paciência. Não mexam. Não façam nada. É assim mesmo. Já vai passar. Mas não passava. Demorou demais, já foram quatro ou cinco sinais. Vermelhos de pressa, tinha gente dizendo que foi de caso pensando, achando que aquilo era só o que faltava pra foder de vez com o resto do dia. Sai daí, porra! Tem buzina vaiando o espetáculo.
O corpo, que tinha sido virado de lado por algum pé piedoso, esbravejou gemendo lamúrias que ninguém pôde ou quis saber. Foi assim que chamou mais atenção para si. Vai ver era isso mesmo: queria mostrar a calça cor de negrume se tingindo de borrões. Mijo escorrendo para o meio-fio. E junto, o fedor. O fedor de quem está cagando pra aquela gente apressada.
[tema: cena secreta. adivinha o que é.]
Agora esmurra a cabeça. Treme. Contrai tudo. As mãos viradas para dentro tentam agarrar os pulsos. Quase não se nota as pernas dando saltinhos curtos. Vem crescendo um cuspe branco, denso. Parece a espuma do córrego ali debaixo. Enquanto a língua se enrosca, ele mastiga a própria carne com um resto de dentes podres. É uma boca que ainda teima em sorrir.
Luzes sobre a cena e uma certa piedade blasé. Um ou dois fizeram o esforço de ter alguma paciência. Não mexam. Não façam nada. É assim mesmo. Já vai passar. Mas não passava. Demorou demais, já foram quatro ou cinco sinais. Vermelhos de pressa, tinha gente dizendo que foi de caso pensando, achando que aquilo era só o que faltava pra foder de vez com o resto do dia. Sai daí, porra! Tem buzina vaiando o espetáculo.
O corpo, que tinha sido virado de lado por algum pé piedoso, esbravejou gemendo lamúrias que ninguém pôde ou quis saber. Foi assim que chamou mais atenção para si. Vai ver era isso mesmo: queria mostrar a calça cor de negrume se tingindo de borrões. Mijo escorrendo para o meio-fio. E junto, o fedor. O fedor de quem está cagando pra aquela gente apressada.
[tema: cena secreta. adivinha o que é.]
segunda-feira, março 16
twittando, eu?
Tô sim.
Fiz minha inscrição no site coqueluche da estação faz tempo, mas só agorinha incluí minha primeira frase com menos de cento e tantos caracteres. Coloquei até meu último microconto, prejudicado pela formatação mas tá lá. Reparei que tem gente viciadinha num "What are you doing?" e que escreve quase com compulsão. Aí achei abuso demais. Mas se é livre, vai fazendo aí que eu já vou. Não é assim que funciona na vida?
Fiz minha inscrição no site coqueluche da estação faz tempo, mas só agorinha incluí minha primeira frase com menos de cento e tantos caracteres. Coloquei até meu último microconto, prejudicado pela formatação mas tá lá. Reparei que tem gente viciadinha num "What are you doing?" e que escreve quase com compulsão. Aí achei abuso demais. Mas se é livre, vai fazendo aí que eu já vou. Não é assim que funciona na vida?
mais quinze dias
Foi assim: eu disse "E aí, hoje completamos a primeira quinzena: vamos renovar o projeto?" e ele disse que "sim, eu tô gostando, e você?". Eu disse que sim, também. Falei que esses primeiros dias foram difíceis, por que eu ainda não me sinto em casa, mas que aos poucos estou me adaptando. Concordamos que é uma mudança danada, de local e de rotina. Imagina em qual outra situação eu acordaria cinco e meia da manhã para acompanhar um jogo de basquete do pré-mirim do Palmeiras lá em Santos. Ele riu. Beijou minha boca. Continuamos subindo a serra.
quinta-feira, março 12
quarta-feira, março 11
sexta-feira, março 6
Colheita
Enquanto levava sabugadas,
a moça do cabelo de milho
foi ceifada.
Perdeu a cabeça na sexta de carnaval.
a moça do cabelo de milho
foi ceifada.
Perdeu a cabeça na sexta de carnaval.
quem foi que botou praga?
E não é que arranjaram um evento pra eu dirigir bem na noite da segunda-feira que vem! Tô perdida: como vou fazer pra assistir ao primeiro episódio DUPLO de estreia da 5a temporada de Lost?
Alguém aí pode gravar pra mim?
Alguém aí pode gravar pra mim?
quinta-feira, março 5
quando eu crescer, quero ser Marcelino
Amor cristão
Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.
Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata. Amor que não tem pena.
Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.
Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai. Lá no cativeiro. Por mim ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.
Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos. O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação.
Amor que liberta. Meu irmão. Amor que sobe. Desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que de repente nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor.
[Mercelino Freire, trecho de seu último livro: RASIF - Mar que arrebenta]
E ontem iniciei a oficina Viagem Literária, com meu muso.
Quer saber mais? Vá lá: http://www.obarco.com.br/index.asp
E mais não digO.
Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.
Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata. Amor que não tem pena.
Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.
Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai. Lá no cativeiro. Por mim ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.
Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos. O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação.
Amor que liberta. Meu irmão. Amor que sobe. Desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que de repente nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue. Meu filho. Não é amor.
[Mercelino Freire, trecho de seu último livro: RASIF - Mar que arrebenta]
E ontem iniciei a oficina Viagem Literária, com meu muso.
Quer saber mais? Vá lá: http://www.obarco.com.br/index.asp
E mais não digO.
quarta-feira, março 4
segunda-feira, março 2
quando tem que ser
Saí de casa aos 23 anos. Junho de 2002. A Marina Konig, ex-chefe e boa amiga, estava de malas prontas para os EUA e queria alguém pra cuidar e custear o apê. Fui eu com o Akira, bom amigo que havia se separado e estava afins de juntar uma grana.
O Akira aparecia com uma mulher diferente por final de semana. Eu acordava no sábado e tinha uma doida usando meu desodorante. No domingo, era uma maluca quebrando as folhas das plantas da varanda. Acabei que me acostumei. Mas aí ele trouxe a namorada folgada e carioca e quis enfiá-la no apê. Eu me recusei: "aqui essa menina não mora". Aí o Akira saiu de casa para casar.
Morei um tempo sozinha até que a Marina voltou. Voltou grávida do namorado que ficou lá. Ficou até os cinco meses por aqui e aí saiu de casa para casar.
De novo, eu sozinha. Festa, festa, festa todo dia. Ganhava menos de R$ 1,5 mil e não conseguia bancar as festas e o apê. Entreguei o apê.
Fui morar com meus pais no Tatuapé. Eram malas e caixas vagando, em cima do guarda-roupa, debaixo da cama. Horas para ir, horas para voltar. Absorva estes sábios ensinamentos: 1) saiu de casa, não volte mais e 2) faça de tudo para morar perto do seu trabalho.
Saí. Destino: Vila Madalena. Tati de companheira, the best. Mais de 80m2 no burburinho. Japa na varanda, macarrão, brigadeiro. Faxinas no sábado. Festinhas na sexta. Um dia Tati apertou o Wal pra morarem juntos. Ele amarelou. Ela terminou. Eu fui pra Europa. Quando voltei, Tati me deu a notícia. Um mês depois, saiu de casa para casar.
Sozinha, até suportar a bagunça que era aquela esquina purpurinada da Vila. Então mudei para o sossego do Brooklin, periquitinhos na janela. Dessa vez, determinada: nada de dividir apê, nada de alguém sair de casa para casar.
Ontem, eu que saí de casa.
O Akira aparecia com uma mulher diferente por final de semana. Eu acordava no sábado e tinha uma doida usando meu desodorante. No domingo, era uma maluca quebrando as folhas das plantas da varanda. Acabei que me acostumei. Mas aí ele trouxe a namorada folgada e carioca e quis enfiá-la no apê. Eu me recusei: "aqui essa menina não mora". Aí o Akira saiu de casa para casar.
Morei um tempo sozinha até que a Marina voltou. Voltou grávida do namorado que ficou lá. Ficou até os cinco meses por aqui e aí saiu de casa para casar.
De novo, eu sozinha. Festa, festa, festa todo dia. Ganhava menos de R$ 1,5 mil e não conseguia bancar as festas e o apê. Entreguei o apê.
Fui morar com meus pais no Tatuapé. Eram malas e caixas vagando, em cima do guarda-roupa, debaixo da cama. Horas para ir, horas para voltar. Absorva estes sábios ensinamentos: 1) saiu de casa, não volte mais e 2) faça de tudo para morar perto do seu trabalho.
Saí. Destino: Vila Madalena. Tati de companheira, the best. Mais de 80m2 no burburinho. Japa na varanda, macarrão, brigadeiro. Faxinas no sábado. Festinhas na sexta. Um dia Tati apertou o Wal pra morarem juntos. Ele amarelou. Ela terminou. Eu fui pra Europa. Quando voltei, Tati me deu a notícia. Um mês depois, saiu de casa para casar.
Sozinha, até suportar a bagunça que era aquela esquina purpurinada da Vila. Então mudei para o sossego do Brooklin, periquitinhos na janela. Dessa vez, determinada: nada de dividir apê, nada de alguém sair de casa para casar.
Ontem, eu que saí de casa.
sexta-feira, fevereiro 27
minha tara
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